Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

domingo, 18 de julho de 2021

Prémio Valmor, Ano de 1909, Rua Marquês Fronteira 18-28

Encontra-se na Rua Marquês da Fronteira (à esquerda), logo a seguir à transversal para o Palácio da Justiça, e quando se começa a descer em direcção à Avenida António Augusto Aguiar, tendo o “El Corte Inglês” do lado direito. O Palacete encontra-se dentro de uma pequena propriedade fechada ao público. Em virtude disso, as fotografias foram tiradas á distância (estilo “paparazzi”) e não mostram bem o extraordinário edifício que foi Prémio Valmor de 1909.

As fotos são referentes ao ano de 2013, sendo a primeira obtida através do “Google Earth”.

No ano de 1909 foram entregues quatro prémios, três dos quais Menções Honrosas.

Nesse ano o Prémio Valmor coube ao Palacete Mendonça (10), na Avenida Marquês de Fronteira, 18-28, um projecto do arquitecto Miguel Ventura Terra para Henrique José Monteiro Mendonça. Edificado no alto do Parque Eduardo VII e um pouco recuado em relação à via pública possui uma fachada simétrica e de expressão algo italianizante. O júri destacou ainda a “loggia”, afirmando mesmo que «(...) deveria ser mais amplamente adoptado no nosso pais (...)».

Arquitecto Miguel Ventura Terra:


 

Prémios Valmor (1903, 1906, 1909, 1911) e Menção Honrosa (1913)

Arquitecto Miguel Ventura Terra (1866-1919):

“Natural da freguesia de São Pedro de Seixas do Minho, iniciou os seus estudos na Academia Portuense, entretanto Escola de Belas-Artes, que concluiu com a obtenção do diploma de Arquitecto e, em 1886, partiu para Paris, como bolseiro do Governo, após um polémico concurso, reclamado e sanado, onde lhe foi confirmado o primeiro lugar. Nesta cidade, candidatou-se à respectiva Escola de Belas-Artes, tendo ficado entre os cinco primeiros classificados. Discípulo dos notáveis arquitectos Jules André (1) e Victor Laloux (2), durante estes estudos, obteve primeiros prémios, medalhas e menções honrosas que lhe permitiram concorrer à primeira classe dos arquitectos diplomados pelo Governo francês. Em 1895, recebeu o honroso diploma, após defesa de um Projecto do Palácio da Justiça para Lisboa que, entretanto lhe fora encomendado pelo Governo português. Nesse ano foi recebido no “Salon”.

devem-se a Ventura Terra as grandiosas obras do Monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo, continuadas, após a sua morte, pelo Arqº. Manuel Nogueira (1883-1953), e, ainda, em Lisboa, a sinagoga israelita Schaare Tiekwa, da Rua Alexandre Herculano, que substituiu a do Beco dos Apóstolos, à Rua das Flores («A Construção Moderna» N.º 97/Ano IV/1903);

Obteve o Prémio Valmor referente aos Anos de 1903, 1906, 1909 e 1911 com as edificações situadas na Rua Alexandre Herculano, N.º 57-57C, Avenida da República, N.º 38, Rua Marquês da Fronteira, N.º 18-28, e Rua Alexandre Herculano N.º 25. Receberia ainda, respeitante a 1913, uma Menção Honrosa do Prémio Valmor pelo prédio situado na Avenida António Augusto de Aguiar, N.º 3-D, onde é hoje a sede da Ordem dos Engenheiros.”

In Bairrada, Eduardo Martins, “Prémios Valmor 1902-1952”, Edição 1988, CML. (sic)*

“http://www.priberam.pt/dlpo/sic” - *sic |sique| (palavra latina)

Advérbio: Sem alteração nenhuma; tal e qual. = assim

(1) - Louis-Jules André ou Jules André é um arquitecto francês, nascido em Paris, a 24-06-1819 e morreu, também em Paris, a 30-01-1890, foi professor de Arquitectura, Prémio de Roma e membro do Instituto de França.

(2) - Victor-Alexandre-Frédéric Laloux (Tours, 15-11-1850 - Paris, 13-07-1937) é um arquitecto francês. 

Acontecimentos Arquitectónicos da década:

1902 - Inauguração do elevador de Santa Justa;

1903 - Publicação do novo regulamento de salubridade para as construções urbanas;

1904 – Aprovação do Plano Geral de Melhoramentos, apresentado pelo engenheiro Ressano Garcia (1847-1911);

1905 – Desenvolvimento das construções ao longo da Avenida Fontes Pereira de Melo e da futura Avenida da República;

1905 - Jardim Zoológico, nas Laranjeiras, Raul Lino;

1907 – Animatógrafo do Rossio;

1908 - Projecto para o Parque Eduardo VII do arquitecto Miguel Ventura Terra.

 

18 comentários:

  1. O palacete e a localização são horríveis :))
    Abraço, boa semana

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    1. São horríveis porque se está completamente impossibilitado de fotografar o palacete !
      Pedro obrigado

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    2. O Pedro estava a ser irónico! 😄

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  2. Respostas
    1. Os olhares foram os possíveis com a dificuldade em fotografar este Prémio Valmor de 1909, como mereceria !

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  3. Teve obras de remodelação, está agora com um exterior mais apresentável.
    Há quem diga que foi comprado.
    Numa das minhas passagens por lá, penso que seria há dois anos, estaria a haver um evento, pois vi pessoas de alto nível a entrar.

    A minha sobrinha tem uma casa nessa rua, onde fico quando aí vou, daí eu escrever que conheço a casa, que muitas vezes comentei que era uma pena estar ali desprezado.
    Nem sabia que não se podia fotografar.
    Também acho que nunca o fotografei, quando passava em frente.

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    1. Eu acho que quando foi o evento do nosso último almoço em Lisboa, fomos buscar-te ao cima da Avenida António Augusto Aguiar, muito perto desse palacete.
      Toda a moradia e terrenos à volta, estão/estavam vedados, por isso, restam as fotos possíveis, como as fiz.
      Maria obrigado

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    2. Ontem, quando comentava, lembrei-me disto:
      "Eu acho que quando foi o evento do nosso último almoço em Lisboa, fomos buscar-te ao cima da Avenida António Augusto Aguiar, muito perto desse palacete."
      Sim, foi em frente ao El Corte Inglês.
      Beijinhos

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  4. Gosto sempre desta tua rúbrica pois fico fascinada com as construções antigas e bonitas que há na nossa capital.

    Fizeste-me rir com essa história de teres "vestido a pele de um paparazzi para poderes fotografar!
    Olha que acho que tinhas jeito! 😆
    Tinhas era de investir numa lente daquelas bem gordas!

    Beijinhos brincalhões
    (^^)

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    1. Bem, se fosse "paparazzi" andaria a fotografar outras coisas bem mais interessantes, garanto :) !... trabalharia para o Correio da Manhã e tentaria estar no local quando alguma beldade se descuidasse e mostrasse o que não devia mostrar :))) !

      Fora de brincadeira, tenho imensa pena de ainda não ter conseguido fotografar este PV como ele merece !!!
      Clara obrigado

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    2. Tens de passar lá.
      Está mais visível.

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  5. Gosto muito de passear a pé por Lisboa e demorar-me a observar alguns prédios. São lindissimos! E tantas vezes passamos por eles sem sequer os ver!

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    1. Também gosto, mas costumo, quando programo, levar a máquina para fotografar.
      Boop obrigado

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  6. Bom acompanhar aqui O Prêmio Valmor , Ricardo.
    O slide dá para perceber a beleza das edificações . Gosto muito de fotografar edifícios antigos_ principalmente se são bem cuidados.
    abraços Ricardo

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    1. O Prémio Valmor teve épocas áureas em que as construções eram maravilhosas, infelizmente e com os tempos as coisas se modificaram e nos anos seguintes a 1950, este prémio, e para mim claro, piorou esteticamente,
      Lis obrigado

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  7. Ficarei atenta da próxima vez que passar por ali... pois também a mim, me tem passado tão despercebido... e passei tantos anos, por aqueles lados, quando levava a minha mãe, a uma clínica na António Augusto de Aguiar...
    Um edifício que adorei descobrir bastante mais, por aqui!
    Um grande abraço! Bom fim de semana!
    Ana

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    1. Modéstia à parte, mas os Prémios Valmor, que fotografei já 3 vezes, entre 1902 e 1943, são de longe, para mim, do melhor que se fez em arquitectura em Lisboa. Pela etiqueta Valmor consegues ver as publicações que até agora trouxe ao "Pacto". Há autênticas obras primas. Este foi o 9.º e falta ainda 20 publicações.
      Ana obrigado e abraço

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!