Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Billboard Top 100 - Lugar n.º 76 - Paul McCartney & Stevie Wonder / Ebony and Ivory

Esta rúbrica trará algumas das 100 melhores músicas consideradas pela “Billboard” (https://www.billboard.com/).

Virão somente aqui aquelas que gosto. Não gosto de “Rap” ou “Hip-Hop”, por isso, as que aqui, do género, aparecerem, é porque gostei de ouvir. Também alguma música, como disse o Salvador Sobral “de plástico”, com “batucada” irritante (para mim, claro !!!), não a mostrarei.
No entanto, deixarei os links do Youtube para quem quiser ouvir as que não colocar aqui, com indicação do Lugar n.º / Intérprete / Composição / Link.



77 - Paula Abdul - Rush Rush - https://www.youtube.com/watch?v=yqyIaNWP0T0

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Eyes Thru Glass (44) – Porto Palafita

Aqui neste blogue e no “Eyes thru Glass“ mostro aquilo que os meus olhos vêem, através da objectiva.

Aqui ficarão somente as fotos, sem texto ficcional e sem música, apenas uma breve introdução, onde são tiradas e quando, e eventualmente alguma especificação técnica.

No dia 21 de Maio de 2017, fui em grupo de fotógrafos ao “Porto Palafita”. Situado na Carrasqueira, no Alentejo.

Somente uma explicação técnica para a 9.ª fotografia que tirei com o “balanço de brancos”, como se fosse para tirar uma foto com luz fluorescente. Acho que ficou bastante razoável e bonita, com várias tonalidades de azul.











sábado, 14 de dezembro de 2019

CinemaScope (29)

Retomo uma rúbrica que existia neste blogue, em rodapé e que possivelmente passou despercebida a muitos que me visitavam, por estar mesmo lá no fim da minha página.

É música claro ! O que estavam à espera ?

São composições que me dizem muito, porque sou um romântico e um eterno apaixonado por música, pelas outras artes, pela humanidade, pelos amigos que encontrei na blogosfera, pela Natureza, pela vida, no fundo, pelas coisas boas desta sociedade em que vivemos.

Desta vez os registos, enquanto não apagados ou eliminados do Youtube, ficarão por cá, com uma única etiqueta “CinemaScope”.


terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A Sopa do Pacto (10), solução



Quem participou:

1 – Clara: (Hermínia Silva “Vou Dar de Beber à Alegria”, Carlos Ramos, Tony de Matos e Maria da Fé “Valeu a Pena”)

2 – Luísa: (Hermínia Silva, Carlos Ramos, Tony de Matos e Maria da Fé)

3 – Janita: (Hermínia Silva, Carlos Ramos, Tony de Matos e Maria da Fé)

4 – Pedro Coimbra: (Hermínia Silva, Carlos Ramos “Não Venhas Tarde”, Tony de Matos “Só Nós Dois” e Maria da Fé)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

A Sopa do Pacto (10)


“A Sopa do Pacto” é a nova rúbrica, baseada basicamente no passatempo “Sopa de Letras”. Conterá sempre um quadrado, como figura geométrica, de 7x7, 8x8, 9x9 ou 10x10, e as palavras a adivinhar estarão colocados nas posições utilizadas na “sopa de letras”, horizontal, vertical e diagonal, em ambos os sentidos.
A “sopa” serão quase sempre 4 artistas do foro musical: uma voz feminina; uma voz masculina e duas bandas. Os artistas terão sempre dois nomes, pelos quais são mais conhecidos, mas as bandas poderão ter só um nome, pela qual é conhecida.

Terão de me enviar por mail (ricardosantos1953@gmail.com) o puzzle totalmente solucionado ou o que conseguiram encontrar até ao final do prazo limite, indicando onde se encontram as duas vozes e as duas bandas. Cada um de vós acrescentará, e somente, duas canções interpretadas por um dos artistas do puzzle à escolha, uma de um e uma de outro.

O tempo limite para resolverem a “sopa”, os artistas no puzzle e escolherem as duas canções será de 48 horas. Dúvidas serão aqui respondidas nos comentários.

Terminadas as 48 horas, publicarei as respostas e as composições, de quem completou totalmente ou parcialmente. Sou eu que escolho as canções por vós indicadas. Não serão, necessariamente, da pessoa que me deu a resposta do puzzle resolvido mais rapidamente.

A “Sopa do Pacto” número 10, é com fadistas (duas mulheres e dois homens. Dos seus nomes foram omitidos do, da, dos, das e de):



No dia 10-12-2019 às 20:00, publicarei as soluções; No dia 11-12-2019 às 00:00, publicarei as músicas.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Charada 7.º Arte – Arthur Duarte (2)

Fotos e nomes correctos: Maria Olguim e Curado Ribeiro

1- Elvira: (Maria Olguim e Curado Ribeiro, “O Costa do Castelo”)

2- Janita: (Maria Olguim, “O Leão da Estrela” e Curado Ribeiro “O Costa do Castelo”)

3- Teresa: (Maria Olguim, “O Leão da Estrela” e Curado Ribeiro “O Costa do Castelo”)

4- Pedro Coimbra: (Maria Olguim, “A Menina da Rádio” e Curado Ribeiro “O Costa do Castelo”)

5- Catarina: (Maria Olguim, “A Menina da Rádio” e Curado Ribeiro “O Costa do Castelo”)

6- Clara: (Maria Olguim e Curado Ribeiro, “O Leão da Estrela”)

7- Manuela: (Maria Olguim, “O Leão da Estrela” e Curado Ribeiro "O Costa do Castelo")

Muito Obrigado a Todos Vós pela participação e pelos acertos, que todos conseguiram. A ideia não é ser difícil, mas sim despertar as pessoas a verem bom cinema. Abraço !!!

Próximo realizador, o norte-americano Steven Soderbergh, que anunciarei na Newsletter a data de publicação.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Charada 7.ª Arte – Arthur Duarte


Realizador Arthur Duarte

Charada com comentários NÃO moderados. Por favor, não coloquem aqui a solução, enviem-na para o meu email: ricardosantos1953@gmail.com

O que têm de fazer:

Em baixo, descobrirem e dizerem-me (mail), ambos os nomes da actriz e do actor e em que filme (pelo menos um!) no qual tenham participado. Não é obrigatório que tenham participado no mesmo filme, mas os filmes têm de ser do realizador em questão.

Ajudas: O número de letras do nome a encontrar, e uma foto um pouco alterada.

Somente aceitarei os nomes correctos com as fotos.

Têm 48 horas para "matar a charada" e três palpites por actriz e outros três por actor.

Depois de amanhã, dia 4, pelas 20:00 publico a solução, bem como os seus participantes.


Actriz, duas palavras (11 letras):
_ _ _ _ _    _ _ _ _ _ _




















Actor, duas palavras (13 letras):
_ _ _ _ _ _     _ _ _ _ _ _ _




















Obrigado

domingo, 1 de dezembro de 2019

7.ª Arte - Arthur Duarte

Breves palavras sobre o que é para mim, o Cinema.

Durante os anos da minha juventude houve algo que me despertou o interesse e fez com que a minha ligação com os audiovisuais se tornasse, desde então, preponderante na minha vida. Esse algo foi o Cinema. A chamada 7.ª arte (arte da imagem) que quando dado o nome e na minha modesta opinião, ela reflectia somente a realidade do cinema mudo, por isso “arte da imagem”. Posteriormente a 7.ª arte tornou-se em algo muito mais complexo. A obra/filme tornou-se num conjunto de várias e ricas variáveis: a imagem, o texto, a cenografia, o som, o guarda-roupa, a interpretação, etc.. Tudo isso conglomerado e orientado de alguma maneira, por uma pessoa na arte de dirigir, o realizador.

Um bom filme, é como uma boa música ou um bom livro, é algo que deve ser visto mais que uma vez, para que nos apercebamos de coisas que numa só, é impossível. Um amante de cinema vê um filme duas, três vezes, para que nele possa visualizar todas essas variáveis de que falei anteriormente.

Vão passar por aqui alguns realizadores que fizeram e fazem parte do meu imaginário de cinéfilo. Nessa época, quando frequentei as salas de cinema em Lisboa, as filmografias de eleição eram: a italiana, a francesa, a alemã, a sueca, a espanhola, a nipónica, a americana. Mas passarão também, e obviamente, realizadores brasileiros e portugueses

Esta nova publicação intitulada 7.ª Arte, será muito de uma pequena mostra do que se via cinematograficamente em Lisboa, nos finais da década de 60 e 70, mas não só, porque teremos filmes muito mais actuais !!!
Tal qual, como todos vós, me reconhecem como um melómano amador, eu também sou um cinéfilo amador. O que vou trazer aqui foram/são obras que gostei/gosto e vi/revejo, e as minhas escolhas são apenas opiniões e gostos, livres de qualquer pretensiosismo !!!

No nome do realizador (se estrangeiro) e na maioria dos títulos dos filmes existem “links” para a Wikipedia (versão inglesa), por ser a plataforma mais abrangente e mais completa. Se pretenderem, na coluna esquerda dessas mesmas páginas, em baixo, tem normalmente, a escolha da tradução para a língua portuguesa.


(Dados Biográficos In Wikipédia e/ou In Imdb - Todos os excertos das biografias foram adaptados e algumas vezes traduzidos por Ricardo Santos)

Do cinema português trago-vos Arthur Duarte (Arthur de Jesus Pinto Pacheco) (17-10-1895 – 22-08-1982), realizador dos anos da comédia portuguesa (Vasco Santana, Ribeirinho e António Silva). Com 9 películas. Dele escolhi a apresentação (trailer) de 3 filmes que vi e que já revi sei lá quantas vezes !

(1943) O Costa do Castelo (filme completo, não se encontra somente apresentação !)


(1944) A Menina da Rádio (filme completo, não se encontra somente apresentação !)


(1947) O Leão da Estrela (filme completo, não se encontra somente apresentação !)


Biografia e entrevista sobre o Arthur Duarte

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Jazz Standards (187)

(Dados Biográficos In Wikipédia e In AllMusic.Com - Todos os excertos das biografias foram adaptados e algumas vezes traduzidos por Ricardo Santos)

(Sobre o tema em questão, algumas palavras retiradas de “in
http://www.jazzstandards.com/compositions/index.htm” - adaptação e tradução por Ricardo Santos)

I Only Have Eyes for You (#191) - Música de Harry Warren e Letra de Al Dubin

Dick Powell cantou esta música no filme “Dames” de 1934, dos compositores vencedores do Oscar, compositor Harry Warren e pelo letrista Al Dubin. A música tocou ao longo da banda sonora e foi apresentada em duas cenas. O tenor Powell canta para Ruby Keeler no barco de Staten Island. Ele expressa o seu espanto ao dizer que não sabe "se o céu está nublado ou claro" ou "se estamos num jardim ou numa avenida movimentada" porque "só tenho olhos para ti".

Michael Bublé (Burnaby, British Columbia, Canadá, 09-09-1975) – no “The Graham Norton Show | BBC America”


Billie Holiday (Filadélfia, EUA, 07-04-1915 — New York, EUA, 17-07-1959)


Peggy Lee (Jamestown, North Dakota, EUA, 26-05-1920 – Bel Air, California, EUA, 21-01-2002)


Louis Armstrong (New Orleans, EUA, 04-08-1901 — New York, EUA, 06-07-1971)


Letra

My love must be a kind of blind love
I can't see anyone but you
And dear, I wonder if you find love
An optical illusion, too?
Are the stars out tonight?
I don't know if it's cloudy or bright
'Cause I only have eyes for you, dear
The moon may be high
But I can't see a thing in the sky
'Cause I only have eyes for you.
I don't know if we're in a garden
Or on a crowded avenue
You are here, so am I
Maybe millions of people go by
But they all disappear from view
And I only have eyes for you

Lamento, algumas eventuais falhas nas letras, encontradas na Internet, devido à própria improvisação dada pelos seus intérpretes, e muitas vezes de difícil entendimento. (Ricardo Santos).

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Eyes Thru Glass (43) - Trafaria

Aqui neste blogue e no “Eyes thru Glass“ mostro aquilo que os meus olhos vêem, através da objectiva.

Aqui ficarão somente as fotos, sem texto ficcional e sem música, apenas uma breve introdução, onde são tiradas e quando, e eventualmente alguma especificação técnica.

No dia 18 de Junho de 2016, andei pela Trafaria onde “bati” algumas fotos.










domingo, 24 de novembro de 2019

sábado, 23 de novembro de 2019

Dentes na Vagina - Interacção Humorística (193)

Em 09-04-2013. Obrigado.

Dentes no Sexo Feminino

Hoje apetece-me reviver momentos marcantes da minha vida e um deles foi sem dúvida a descoberta da sexualidade...feminina!

Lembro-me que tinha ai uns 7 anos e uma vez a minha mãe apanhou-me a meter a mão por debaixo da saia de uma menina, da minha rua, e gritou-me:

- TIRA DAÍ AS MÃOS,NÃO SABES QUE AS MULHERES TEM DENTES AI EM BAIXO?...

Em pânico tirei a mão rapidamente e chorei com susto que levei, mas também fiquei feliz por não ter sido mordido.

Alguns anos se passaram e eu sempre convencido de que de facto as mulheres tinham dentes naquela zona tal como a minha mãe me tinha dito, até que aos 15 anos vejo-me prestes a ter a minha primeira experiência sexual com uma miúda de 20 anos que andava na minha turma... estávamos em casa dela aos beijos e ela com uma bela mini saia diz-me:

-NÃO QUERES IR UM POUCO MAIS LONGE?... PODIAS METER A MÃO AQUI EM BAIXO???

Fiquei apavorado e respondi:

- FODA-SE !!!... NÃO !!! TENS DENTES AÍ EM BAIXO !

- O QUÊ ??? TÁS MALUCO ??? CLARO QUE NÃO TENHO !!!

- TENS, TENS QUE A MINHA MÃE DISSE-ME...

- NÃO TENHO NADA... ORA ENTÃO VÉ LÁ !!!... diz-me ela depois de levantar a saia e tirar as cuecas e abrir um pouco as pernas.

- DESCULPA LÁ MAS NÃO ME CONVENCES, A MINHA MÃE DISSE QUE AS MULHERES TINHAM DENTES AÍ, É PORQUE TÊM !!!

- Ela desesperada tira a saia abre completamente as pernas e com as mãos afasta um pouco os lábios e diz-me.

- E AGORA JÁ ACREDITAS QUE NÃO TENHO DENTES AQUI ???

- BEM... AGORA ACREDITO... MAS VENDO AS GENGIVAS NESSE ESTADO, DEVE TER-TE CUSTADO A TIRAR OS DENTES !!!

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CinemaScope (28)

Retomo uma rúbrica que existia neste blogue, em rodapé e que possivelmente passou despercebida a muitos que me visitavam, por estar mesmo lá no fim da minha página.

É música claro ! O que estavam à espera ?

São composições que me dizem muito, porque sou um romântico e um eterno apaixonado por música, pelas outras artes, pela humanidade, pelos amigos que encontrei na blogosfera, pela Natureza, pela vida, no fundo, pelas coisas boas desta sociedade em que vivemos.

Desta vez os registos, enquanto não apagados ou eliminados do Youtube, ficarão por cá, com uma única etiqueta “CinemaScope”.


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O Livrinho Vermelho do Galo de Barcelos (25, 26, 27 e 28)

O Livrinho Vermelho do Galo de Barcelos / Ex-citações de Mau de Zé y Chunga:
2ª. edição. Colaboração dos Anarkas (e não só...) deste País;
Fotos de: José Teixeira, Avelãs Coelho, Lourenço Pereira e José Teixeira;
Capa de: Acácio Campos.

Digitalizações gentilmente cedidas pela Afrodite a quem agradecemos, porque sem esta informação cedida teria sido impossível a existência desta rúbrica que hoje termina !



Notas introdutórias:



Hoje:





sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Guerra na Pele de João Cabral Pinto

Companheiro recente de outras guerras, o bilhar às três tabelas, o João Cabral Pinto escreveu um livro que pelos vistos começou a ser projectado e criado há muitos anos.

Pequeno excerto da entrevista efectuada pela Maria Miguel Cabo, no link da TSF, aqui !

O vídeo lá mais abaixo !

Entrevista extraida daqui !... entrevistado por Miguel Morgado

“AMOR DE MÃE, ANGOLA”. AS TATUAGENS QUE CONTAM A HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL

Moda, estatuto, para casar, alienação, dor ou porque beberam um copo antes. Estas são algumas das razões dos desenhos feitos nos antebraços de quem foi para a guerra colonial. A história contada em livro pela subcultura dos homens que, em teatro de guerra, não se envergonharam de escrever no corpo a palavra Mãe. Um registo fotográfico que resgata a memória coletiva de um povo no qual as imagens valem mil testemunhos. “Guerra na pele. As tatuagens da guerra colonial”, uma memória escrita.

No início eram tatuagens. Agora são retratos de tatuagens. No início era a guerra colonial. Agora são as memórias que ficaram. Ficam. Cravadas na pele. No corpo. Na mente. Na alma. Bem fundo. Para sempre. Por causa da Pátria. Pela Pátria.

As imagens, essas, não saem da cabeça, por mais esbatidas que estejam no corpo. Passaram anos. Décadas. Na pele, a maioria apresenta-se descolorida. Quase que desapareceram. Por isso, há quem tenha feito a versão 2.0 do “Amor de Mãe”, a frase icónica de quem foi para África. Porque não querem esquecer. Não podem esquecer por mais que, muitos deles, procurem não falar. Sobre o que foram lá fazer e aquilo que estamparam. Porque recuam ao tempo da guerra. E, se o fizerem, dizem: “Não durmo. Se eu lhe contar, eu já não durmo esta noite...”.

A guerra colonial está ainda bem presente na memória coletiva de um país. Pelo menos, em grande parte dele. João Cabral Pinto quis resgatar a história de Portugal pelas imagens dos desenhos nos corpos de quem foi e voltou. Depois de hesitações e negações de editoras, decidiu avançar para uma edição de autor. “Guerra na Pele – As tatuagens da guerra colonial” é o nome do livro apresentado hoje na Biblioteca Natália Correia, em Carnide, Lisboa. É mais do que um conjunto de palavras. É um registo histórico.

O objetivo? “Resgatar e preservar para memória futura um conjunto de imagens de tatuagens realizadas por militares das Forças Armadas Portuguesas durante o período da guerra colonial em África de 1961 a 1974”, lê-se nas poucas páginas do livro que merecem conteúdo escrito.

O resto são as imagens que falam por si: 146 imagens de tatuagens que representam uma síntese das 350 fotografadas, resultantes de mais de 230 entrevistas a ex-combatentes, num total de cerca de 600 abordados. Hoje, dos entrevistados, “metade já morreu”, aponta João Cabral Pinto. “As fotografias das tatuagens são a sua memória”.

O trabalho começou há 20 anos. “Os primeiros cincos foram perdidos numa avaria informática, não consegui recuperar e foi tudo ao ar”, recorda. Não desistiu. Seguiram-se 15 anos a andar “nos encontros de militares, nas celebrações dos 10 de junho, em praias, nos autocarros, a mudar o meu trajeto porque via alguém”, sempre atento a uma tatuagem que apontasse para a presença nas ex-colónias.

“Não durmo. Se eu lhe contar, já não durmo esta noite... Só de falar já estou todo a tremer”

A abordagem foi tirada a fotocópia: “Olá, sou o João Pinto, estou a fazer um trabalho sobre a guerra colonial e pergunto se posso tirar uma fotografia à sua tatuagem”.Tal como um filme, seguiu o guião em que queria respostas ao porquê?, quando?, quem?, onde (zona geográfica)?, onde (zona do corpo)?, como? e quantas?. Já as entrevistas “não foram programadas”. Não podiam ser.

João Cabral Pinto compreende quem não participou e quem não respondeu à totalidade das perguntas. Em alguns casos a resposta traduziu-se em pouco mais do que fotografar a tatuagem. “Muitos dos antigos combatentes sofrem stress pós-traumático. Diziam 'vai dar uma curva'. Ou mesmo, 'tira lá a foto, mas não digo mais nada'". O nada explica-se numa frase repetidamente escutada pelo autor: “Não durmo. Se eu lhe contar, já não durmo esta noite... Só de falar já estou todo a tremer”.

“Vaidade”. Esta uma das razões para registar no braço a ida para a guerra. Ou apenas “exibicionismo”, explica João Cabral Pinto. “Uma mulher, nessa altura, que casasse com um militar tinha uma boa vida. Era um chamariz para casar”, pisca o olho.

Há razões mais fundas. “A saudade, revolta, dor, luto”, solta na ponta da língua. Mas não só. O “orgulho” de pertença aos paraquedistas ou fuzileiros, a “vontade de servir o país”, a "moda” e o “todos faziam”. Por situações de morte de companheiros ou medo. “Uns explicaram que o fizeram quando estavam junto da fronteira com o Senegal. Pensavam que iam morrer”, e outros por momentos de pura “alienação”, “desespero” ou “raiva”. Ou mesmo, uma simples “recordação”, enumera o autor.

Não fugimos ao desejo da curiosidade: e o "Amor de Mãe, Angola 1969"? Essa evocação materna que fez parte do imaginário pela adolescência fora deste (48 anos) que vos escreve. “É uma expressão que já vem da 2.ª Guerra Mundial”, informa João Cabral Pinto.

“Nas situações de guerra, em que estás a morrer, aflito, por quem é que tu chamas? Por quem? Pela mãe. Não chamas pelo pai. Ai, mãe. Ai, minha mãe...”, o autor recorda uma partilha feita por um dos fotografados. Um nome tantas vezes repetido que deu em música, de Oliveira Muge. “A mais célebre da guerra colonial: Mãe. Foi do mais conhecido na altura”, sublinha o autor do livro “Guerra na pele”.

Para além do Amor de Mãe e de juramento a outros amores, há outros símbolos (o calote e o grifo), siglas (JNRJ, de Jesus da Nazaré Rei dos Judeus), profissões e frases que ficam para a eternidade: “Sangue, Suor e Lágrimas”, que aparece, por vezes, como “SSL”, em abreviatura. Há mapas de Angola, Cabinda, Guiné ou Moçambique, datas de incorporação, “corações com a flecha do Cupido”, frases avulso como “Adeus, África”, “Deus me guie”, “A Pátria Honrai, que a Pátria vos contempla” e “Fui e Voltei”.

Neste revisitar das histórias de quem regressou há casos insólitos. “Um tatuou o nome da namorada, só que esta deixou-o e, por cima, escreveu: eu e um ponto de interrogação”. Outras precipitações. “Um tatuou-se com uma imagem dos fuzileiros, não entrou e foi para os comandos. Ficou com duas tatuagens”, recorda. Há também imagens que pouco têm que ver com o teatro de guerra - “Um pato Donald e um Mickey”.

O grito de libertação. "Para se libertar de tudo”

Esqueça a loja moderna de tatuagens. Na altura, “eram feitas com três agulhas e tinta-da-china. Faziam, às vezes, um esboço, um desenho a caneta”, descreve João Cabral Pinto. “As tatuagens eram feitas por camaradas de armas, destros. Diria 80%. O resto, mais ou menos em partes iguais, civis e locais. E os próprios. Daí, o lado esquerdo ser o mais tatuado”, esclarece. “O antebraço é o que está mais tatuado porque está à vista. Queriam mostrar. E no verão mostram tudo”, sorri.

Este movimento de tatuagens “acontece informalmente no território militar. Parte dos militares não se tatuou durante o período da guerra colonial”, avisa. “A totalidade dos que o fizeram foi de tal modo importante e impactante que foi considerado uma subcultura informalmente inserida na estrutura militar. Os militares nunca assumiram a tatuagem, não é oficial”, atira.

Das inúmeras imagens cravadas nos corpos de ex-combatente, duas não o deixaram indiferente. “Um homem com uma corrente quebrada no peito. Quando a mostrou apanhei um susto. Disse-me que era um grito de libertação. Um grito para se libertar de tudo”. A outra carrega o divino. “Um rapaz de 75 anos com um Cristo crucificado nas costas”, anota. “É a minha guarda. Guarda-me as costas”, disse.

“Não me meto na interpretação do desenho”, revela. "Mas sei que a cobra representava o mato africano. A faca é a luta”. Uma “caveira e ossos” é comum. “Sou mau, tenho sorte e vou lixar-vos. Estou aqui para estar na guerra”, sustenta.

A conversa decorre e aproxima-se do fim à medida que folheamos as quase duzentas páginas do livro. “Reduzi de 350 páginas para 192”, explica. Fez uma “síntese”, adianta. “Expurguei considerações políticas, militares e sociais e expurguei as ciências sociais e humanas, porque isto tem um lado sociológico”, garante João Cabral Pinto.

O mais marcante, para além da visualização das tatuagens, foi o facto de serem “intensas para o ânimo e desânimo”, frisa. “Para uns, foi uma viagem a uma fase de vida, para outros, o lado negativo. O lado do 'julgava que ia morrer, que via os camaradas a morrer e que nunca mais me vinha embora,' do 'vou ao puto', que significa ir à metrópole”, retrata. “Foram para a guerra com 18 anos. Tatuaram-se com 18 e 20 anos. Hoje são putos tatuados com 75 anos”. No fundo, é gente orgulhosa de ter servido a pátria”, analisa o autor, filho de um militar que esteve em Angola.

“Foram conversa muito intensas. Chorei a fazer isto. Não tocava há cinco anos [no projeto] e abrir o livro outra vez e começo a lembrar-me das situações emocionantes que não estão aqui partilhadas. Talvez para uma próxima”, antecipa.

“Tenho tido muitas respostas da estrutura militar. Dizem-me que é património cultural. É memória coletiva. Uma memória que não se apaga. Como as tatuagens de quem lá esteve. Não pode desaparecer. São imagens. São memórias. Que se guardam. Que ficam. Que não se podem apagar”, resume.