Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Histórias de Ontem (VII) – Furo em Palmela, o primeiro

A data, somente consigo atirar para antes de 1993, visto que o balcão tinha sido instalado por mim. No dia da abertura ao público, um dia de aguaceiros, dirigi-me, com a “minha” “Renault Expresso” à sucursal para a “entregar” aos responsáveis do banco.
Do nosso trabalho técnico, dependiam os computadores e todo o acesso ao sistema central do banco, através do “software” instalado nos equipamentos, bem como algumas aplicações adiministrativas, compostas de uma folha de cálculo e de um processador de texto. Este balcão, na margem sul, abria com comunicação de dados, via satélite e com telefone móvel para comunicação de voz. Um daqueles antigos monstros, pesados como o “raio”. 
A entrega correu, como normalmente costumava acontecer, bem. Eu sempre fui muito meticuloso e organizado no meu trabalho e segui as regras, para não ter surpresas.
O relatório foi assinado pelas pessoas do banco, despedi-me e saí.

Estava a começar a cair uma carga de água, quando entrei na carrinha. Dei à chave e arranquei com a viatura. Logo, nos primeiros metros senti a direcção muito presa e a fugir para um dos lados. Estranhei, não conhecia a sensação. Encostei junto a umas obras de um prédio e saí. A chuva, tinha abrandado, mas a minha roupa, casaco,  calças e camisa, começavam a ficar molhados. Olhei para os pneus e verifiquei que tinha um furo na roda dianteira, direita. O pneu estava, praticamente, vazio.

Tirei o casaco que coloquei dentro da carrinha, e preparei-me para ir buscar o pneu sobressalente e o macaco. Pois.... mas onde é que eles estavam ?!?! L
Dei uma volta à carrinha na esperança de me lembrar de um possível poiso, para tais peças.

No prédio em frente, em construção, um grupo três de pedreiros (?), dois portugueses e um africano, olhavam e começavam a sorrir, ao ver-me aflito à procura do pneu e do macaco.

Mais uma volta à carrinha. Desta vez, abri o compartimento traseiro, onde costumava ter sempre material informático, mas obviamente, nem o pneu nem o macaco estavam lá. LL

O pessoal das obras já ria.

Estão a gozar constatei, mas não vão ficar a rir-se, por muito tempo, disse para comigo. Dito isto, avancei para os operários e num tom decidido, afirmei e perguntei: - Se estão a rir, é porque sabem onde se encontram o pneu sobressalente e o macaco, desta carrinha !? Não ?
Um dos operários, olhou-me e disse: - O pneu sobressalente está debaixo da viatura na traseira, por baixo do compartimento de carga e o macaco está junto ao motor de lado !

Afastei-me com a camisa e as calças já um pouco molhadas e meti mãos ao trabalho, para acabar de me sujar, com a lama do pneu que estava molhado e sujo, debaixo da carrinha, e depois com a montagem do macaco e a substituição do pneu.

O meu primeiro furo em trabalho, grande .... !!! J

Para terminar, uma crítica quiçá fora de tempo à Renault. Colocar os pneus sobressalentes, no espaço exterior e por baixo da carrinha é muito mau. Em dias de chuva, ficam completamente sujos, e não é muito agradável, mexer neles. Além disso, estas carrinhas, tanto as Expresso, as Kangoo e outras, de carga, tem um compartimento de carga tão grande, que se lhe roubarmos um pouco, para o pneu sobressalente, não faz grande diferença.

domingo, 28 de setembro de 2014

Histórias de Ontem (VI) – Pontapé no Balde

Nem sempre as coisas correm bem, e às vezes damos connosco a passar por situações ridículas e de grande comicidade.

A situação passa-se em trabalho. Uma mudança de um departamento do Cliente do edifício da Avenida José Malhoa, para um andar na Avenida Columbano Bordalo Pinheiro. Terá ocorrido, se a memória não me falha e o meu Excel não me atraiçoa por Janeiro de 1995 dias 20, 21 e 22, possivelmente dia 22.

A mudança estava no final. As máquinas estavam no seus locais de destino e faltava somente verificar uma a uma, primeiro o “hardware”, depois todo o “software”, redireccioná-las para as impressoras de rede mais próximas, e ir dormir. A mudança durava desde o dia anterior. Embora não fossem muitos equipamentos, no entanto, e como de costume, as coisas tinham-se atrasado em termos de mobiliário, e obviamente, os computadores não podiam ficar no chão.

As senhoras da limpeza que coincidiam muitas vezes com a nossa intervenção de colocar as máquinas e de as verificar, estavam numa azáfama de limpeza. Armários, secretárias, aspirar a alcatifa, etc. O cheiro do produto de limpeza que utilizavam nos armários para retirar sujidade, entrava-nos pelo nariz dentro.

Eu andava de um lado para o outro a ajudar os meus colegas menos experientes e a garantir que no dia seguinte, dia em que eu estaria de manhã muito cedo, a entregar a nossa parte do trabalho aos responsáveis do Cliente, iria correr bem.

A alcatifa era cinzenta escuro com o logotipo do Cliente a vermelho, e a porcaria, para não dizer, a merda do balde, era cinzento também, e muito idêntico à cor da alcatifa.
Ao dobrar, aceleradamente, a esquina num armário, para ir ajudar um colega meu do outro lado da sala, não vi o balde !!! L L...
Um pontapé que fez saltar o mesmo que estava cheio de água e que se entornou, na totalidade, em cima da alcatifa

- Merda  !!! L - disse eu.

- O senhor não viu o que fez ?! – disse a senhora da limpeza, “dona” do balde.

- Deixe estar que eu apanho tudo !!! – disse eu, numa tentativa de querer remediar algo impossível de fazer.

Gargalhada geral de quem estava ao pé.

- Ainda por cima está a gozar comigo !... Apanha o quê ?!!! A água ?!!! – A senhora da limpeza irritadíssima comigo.

Quem não estava ao pé, veio ver o que se passava e ajudou na risada.

A mudança estava a correr tão bem ! L

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Histórias de Ontem (V) - A pior bica de sempre

Na final da década de 70 eu estava a trabalhar na Baixa de Lisboa. O meu primeiro emprego traz-me sempre à memória muitas recordações. Algumas delas cómicas como esta que vos conto.

Costumava ir beber café mais um colega meu a um pequeno café/restaurante onde além de mesas normais onde serviam os almoços, também ao balcão o faziam.
Por volta das 14:00 já haviam lugares vagos ao balcão, por isso, quando nós chegávamos, conseguíamos, normalmente bebê-lo à vontade e sem pressas. O café não era mau.

Nesse dia, havia apenas um lugar ao balcão livre. Pedimos os cafés. As chávenas foram pousadas no balcão, juntamente com as colheres e os pacotes de açúcar. Estávamos de lado o espaço não era muito.

O meu colega serviu-se e começou a beber o café. De seguida, quando peguei no meu pacote de açúcar reparei que estava duro. A solução seria, como é normal, bater com ele para os grãos se separarem. Assim o fiz. Bati com o pacote no balcão... uma, duas vezes !!!

O pacote rebentou e a exótica especiaria granulada, saltou pelo ar. O grave da questão é que do meu lado direito estava uma senhora que almoçava e tinha o cabelo, estilo permanente. Para aí foi a viagem espacial que alguns grãos fizeram, em busca de terra firme !

A senhora gritou e olhou para mim com um olhar fulminante. Se ela fosse uma super-heroina, eu teria sido morto enquanto o diabo esfrega um olho. Começou a sacudir a cabeça e a praguejar.

O meu colega ajudava ao “enterro”, dizendo:
- Não era suposto pores o açúcar dentro da chávena ?! – rindo.

Desfiz-me em desculpas e aquela foi a pior “bica” que bebi em toda a minha vida. Não pela qualidade, mas pelo incidente.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Histórias de Ontem (IV) - Gaspacho

Na década de 90 tinha eu mudado de empresa e começava uma nova carreira, também ligada à Informática. No fundo tem sido toda a minha vida profissional.
A “Casa do Alentejo”, foi durante muitos anos sítio de eleição para almoçar, não só a nível profissional, mas também a nível pessoal com a minha família.


Num determinado Verão de 1990 e qualquer coisa, não posso precisar o ano, fui sózinho lá almoçar.
Entrei, subi a escadaria que dá acesso ao pátio árabe e depois a que nos leva ao segundo andar onde se encontram as salas de restauração. A sala grande, dos espelhos, naquela altura do ano, costumava estar aberta para almoços. É uma sala exemplar e maravilhosa, embora mereça uma restauração física, esta nunca foi feita por motivos financeiros, creio !.
Sentei-me numa mesa junto à janela e reparei, quando passei, que na mesa ao lado, alguém, deliciadamente, comia uma sopa cheia de legumes.

O Edmundo aproximou-se, cumprimentou-me e deu-me a lista.

Sr. Edmundo disse eu:
- Traga-me uma sopa daquelas !
- Quer um gaspacho ?
- Sim, obrigado !

Nem dois minutos passaram e o Edmundo, que me conhecia há alguns anos, saía das portas que dão acesso à cozinha, trazendo na mão uma malga em louça de barro, com o dito “gaspacho”. Colocou-o à minha frente e afastou-se. Peguei na colher. Dei uma volta com ela dentro da sopa. Enchi a colher e levei à boca. Tão depressa entrou como saíu. Acho que fiz uma cara estranha e desconfortada.
Fiz sinal ao Edmundo.

- Edmundo, esta sopa está fria !!!

Ele olhou para mim riu-se e disse:

- Nunca comeu gaspacho !?
- Não, é a primeira vez !
- Bem me parecia. O “gaspacho” serve-se frio !

Soube-me muito bem a sopa, depois de me habituar à temperatura dela, e hoje é manjar que não renego quando há, embora prefira uma boa “Açorda Alentejana”.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Histórias de ontem (III) - 1ª. Ida ao Porto em Trabalho

Obrigatório são duas homenagens a duas pessoas que trabalharam comigo no meu anterior emprego. Falo dos saudosos, Paula, nossa assistente de agendamentos a clientes, e o colega, amigo e técnico, Mário. Deles a tristeza que me assola, quando neles penso e os recordo. Estejam onde estiverem, um abraço de saudade para os dois.

Esta estória teve lugar aqui há uns anos, por volta de 1992 (creio !), quando fui pela primeira vez em trabalho ao Porto. Na altura os técnicos costumavam ficar numa pensão da Rua de Santa Catarina, infelizmente, uma zona de prostituição nocturna.

Um dos meus colegas, o “Tira-Picos”, avisou-me para que eu pedisse um dos quartos, das traseiras, acho que até me deu o número do quarto. Na realidade, as janelas da frente davam para a Rua de Santa Catarina e como era uma zona complicada, havia bastante barulho durante a noite e foi simpático do “Tira-Picos” querer avisar-me desta situação.

Lá pedi o tal quarto das traseiras que até estava livre, e nessa noite, depois de chegar relativamente tarde do trabalho, o que era normal, visto que somente podíamos intervir fora-de-horas, preparei-me para me ir deitar. Higiene normal. Deitei-me na cama, cansado, deveriam ser umas 00:00 horas. Mal preguei olho durante a noite. Acabei por adormecer cansado já madrugada alta. O que o “Tira-Picos” não me tinha dito é que nas traseiras havia um cão coadjuvado, algumas vezes por outros, que ladrava e uivava, com o calor, a noite toda !...

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Histórias de ontem (II) – A Pedinchona do LIDL

Vou ao LIDL todos os sábados para fazer as compras semanais. Dia 18, quando cheguei à fila para pagar, (gosto mais de dizer bicha!... que mania que temos de nos censurarmos a nós próprios, no correcto português vernáculo!). Dizia eu, quando cheguei à caixa, estavam três pessoas na minha frente e mesmo à minha frente, uma senhora aí dos seus 35 anos, não se calava com o "Gang dos Frescos" e que queria fazer a colecção toda e "rebéubéubéu pardais ao ninho" e dizia:

- Eu cá sou muito pedinchona se as pessoas não quiserem eu fico-lhes com os selos para mim. Esta semana então, tenho vindo ao LIDL todos os dias e ando na pedincha. Sou muito pedinchona !

Já chateava o monólogo, era "pedinchona" para a esquerda "pedinchona" para a direita e ela nunca mais se calava. Ainda se riu para mim, a falar sobre o tema, mas eu, embora sendo conversador emérito, não estava para alimentar aquela conversa da pedinchiche e da pedinchona. Grande azar o meu ...

Quem estava na caixa para pagar lá mais à frente, disse:

- Eu não quero os selos !
- Se não quer, eu fico com eles para mim, eu sou uma pedinchona!

Grrrrrrrrr !!!!

Lá ficou com os selos dessa pessoa e da outra a seguir, antes da vez dela de chegar à caixa. Mais conversa com a menina da caixa, sobre os selos e a "pedinchona". Finalmente, pagou. Mas em vez de sair, dirigiu-se à caixa multibanco, logo à saída das caixas, que o LIDL costuma ter nas suas lojas, para os utentes se utilizarem.

- Uffffffffff !!! - respirei eu.

Tinha terminado a conversa dos selos para os bonecos do "Gang dos Frescos" e da "pedinchona", pensei eu. Quando ia pagar, pergunta-me a empregada:

- O senhor não quer os selos para o "Gang dos Frescos" ?
- Não, muito obrigado!

E pasmem!... Uma vozinha esganiçada, veio do lado da Caixa Multibanco:

- Se esse senhor não quer, eu fico com eles para mim !...

Ao que eu retorqui em voz alta e logo de seguida, sem a deixar dizer mais nada:

- EU NÃO ME IMPORTO, PORQUE A SENHORA É UMA MESMO UMA PEDINCHONA !!!

Risota geral na fila da caixa e nas outras caixas à volta, de quem já tinha assistido à conversa da pedinte. Veio ter comigo, agradeceu os selos, e mais uma vez a palavra trunfo da conversa, foi redita duas ou três vezes.


Dia 18, saí cansado do LIDL e com duas vontades em mente. Ou queimo os peluches do "Gang dos Frescos" ou faço a colecção completa !!!

domingo, 2 de junho de 2013

Histórias de Ontem (I) - Trabalho em Santarém

Obrigatório são duas homenagens a duas pessoas que trabalharam comigo no meu anterior emprego. Falo dos saudosos, Paula, nossa assistente de agendamentos a clientes, e o colega, amigo e técnico, Mário. Deles a tristeza que me assola, quando neles penso e os recordo. Estejam onde estiverem, um abraço de saudade para os dois.           
               
Esta estória teve lugar aqui há uns anos, e se a memória e os meus apontamentos não falharem, terá acontecido por volta de Fevereiro de 1998, quando o nosso maior cliente, estava mais uma vez, a alterar o “hardware/software” dos seus sítios.

Um dos nossos carros era diferente das carrinhas Renault habituais, era um Renault 19 comercial, a “diesel”, comprado pelo nosso chefe, para a assistência técnica.

Como é óbvio, todos os técnicos lhe queriam pôr as mãos em cima, e alguns estrear o cinzeiro e deixá-lo cheio de beatas, como era hábito há anos com os técnicos fumadores, e nas primieras viaturas partilhadas. Era um cheiro nauseabundo que se espalhava na viatura e impregnava nos estofos. Para mim que tinha deixado de fumar em 1985, era um suplício aquele odor. Felizmente, na altura, já tinha o meu Clio Bebop, onde era proibido fumar. E lá ia eu, com dois servidores que não cabiam no porta-bagagens e iam deitados no banco traseiro, presos com os cintos de segurança, a caminho de Santarém. Comigo ia o “Carapau”. O Clio esfolava-se atrás do 19 e pouco e pouco, este último, foi-se afastando, mesmo pesado que ia, com bastante equipamento.

Este quarteto ia, com o seu esforço e dedicação habituais, mais uma vez trabalhar até mais tarde, para deixar o cliente e a empresa satisfeitos.

Descida final e curva larga à esquerda, na A1, e subida para a saída da portagem em Santarém. O 19 tínhamos deixado de o ver há algum tempo. Esqueci-me de dizer que o Renault 19, era conduzido pelo “Tira Picos” acompanhado do “Verylight”.

Saímos em Santarém e dirigimo-nos para o local do cliente em questão, pessoa já nossa conhecida. A nossa primiera surpresa for não ter vistos os nossos colegas, o que muito estranhámos, porque, supostamente, teriam chegado à nossa frente e com grande avanço. Mas não, não estavam. O segurança, tomou nota dos nossos nomes e identificações, já que a tarefa iria durar até tarde, e somente o segurança acabaria por ficar connosco, dentro do edifício.

Nessa altura não tínhamos telemóveis, tínhamos “pagers” e lá vai de enviar uma mensagem para o “Tira Picos” para saber o que se passava. Meia hora depois mais outra mensagem e nada de telefonema. Passaram uns bons 45 minutos e o telefone do Cliente tocou. O gerente atendeu e passou-me o auscultador.      
             
- Estou ! Então o que é que vos aconteceu ?       
       
Do outro lado ouvi a voz do “Tira Picos”          
              
- Enganámo-nos e só saímos em Fátima ! Daqui a pouco estamos ai.        
                
- Despachem-se ! Disse eu.       
                
Resumindo e concluindo, a conversa futebolística entre o “Tira Picos” e o “Verylight” fez com que a distracção os levasse somente a sair da auto-estrada, duas saídas depois de Santarém, imaginem. Risota geral !        
           
Houve alguém, técnico, que enviou um mensagem para os “pagers” de todos os técnicos informando que no fim-de-semana iria ser dado um programa de orientação em auto-estrada, nomeadamente na A1.