Dá a surpresa de ser
Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.
Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.
E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.
Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?
10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Histórias de Ontem (IV) - Gaspacho
Na década de 90 tinha eu mudado de empresa e começava uma
nova carreira, também ligada à Informática. No fundo tem sido toda a minha vida
profissional.
A “Casa do Alentejo”, foi durante muitos anos sítio de
eleição para almoçar, não só a nível profissional, mas também a nível pessoal
com a minha família.
Num determinado Verão de 1990 e qualquer coisa, não posso
precisar o ano, fui sózinho lá almoçar.
Entrei, subi a escadaria que dá acesso ao pátio árabe e
depois a que nos leva ao segundo andar onde se encontram as salas de
restauração. A sala grande, dos espelhos, naquela altura do ano, costumava
estar aberta para almoços. É uma sala exemplar e maravilhosa, embora mereça uma
restauração física, esta nunca foi feita por motivos financeiros, creio !.
Sentei-me numa mesa junto à janela e reparei, quando
passei, que na mesa ao lado, alguém, deliciadamente, comia uma sopa cheia de
legumes.
O Edmundo aproximou-se, cumprimentou-me e deu-me a lista.
Sr. Edmundo disse eu:
- Traga-me uma sopa daquelas !
- Quer um gaspacho ?
- Sim, obrigado !
Nem dois minutos passaram e o Edmundo, que me conhecia há
alguns anos, saía das portas que dão acesso à cozinha, trazendo na mão uma
malga em louça de barro, com o dito “gaspacho”. Colocou-o à minha frente e
afastou-se. Peguei na colher. Dei uma volta com ela dentro da sopa. Enchi a
colher e levei à boca. Tão depressa entrou como saíu. Acho que fiz uma cara
estranha e desconfortada.
Fiz sinal ao Edmundo.
- Edmundo, esta sopa está fria !!!
Ele olhou para mim riu-se e disse:
- Nunca comeu gaspacho !?
- Não, é a primeira vez !
- Bem me parecia. O “gaspacho” serve-se frio !
Soube-me muito bem a sopa, depois de me habituar à
temperatura dela, e hoje é manjar que não renego quando há, embora prefira uma
boa “Açorda Alentejana”.
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Ahahaha!
ResponderEliminarAdoro gaspacho feito ao estilo alentejano tb. Tenho uma amiga (em Portugal) que o faz assim, tendo aprendido com a sogra que é alentejana.
Ainda foi ontem que comi gaspacho que não é parecido ao dela mas que tb me soube muito bem!
Tb gosto de açorda embora a não faça nem uma vez por ano. No Algave como sempre, pelo menos uma vez, açorda de marisco!
Gosto muito de açorda de marisco. Comi uma no fim de semana passado. Muito boa !!!
EliminarObrigado Catarina !
Açorda alentejana ou de marisco, vão já por esta ordem !!!
EliminarAgora fez-me rir, Rui :)))
ResponderEliminarE não foi com a vichyoise do Paulo Portas :))
Há histórias na vida das pessoas que são, pura e simplesmente, cómicas. Esta é uma delas !
EliminarObrigado Pedro
Lembro de me quando mencionou este episódio no meu blog. Agora com este detalhe teve ainda mais piada! Gosto de gaspacho mas fiquei aqui a pensar na açorda.... hmmmmm ia tão bem..
ResponderEliminarÉ verdade eu já ta tinha contado, mas estava a guardá-la, um pouco mais trabalhada, para publicá-la aqui no "Pacto". Também gosto muito de ambas as sopas, embora a açorda me fascine, pelo pão, pelo ovo, pelo fio de azeite, pelo alho e pelos coentros !!!
EliminarObrigado Pusinko
Açorda alentejana estava eu a referir, mas também "marcha" a de marisco !!! :))
EliminarGosto de gaspacho e da Casa do Alentejo que só conheço do ponto de vista turístico e não gastronómico!
ResponderEliminarAbraço
Rosa se tiveres oportunidade vai lá comer. Teve épocas de muito boa comida e outras de menos boa, mas no geral, sempre se comeu bem lá. Já não vou lá há muito tempo almoçar ou jantar. Se lá fores o sr. Edmundo já não está lá, mas falas com o Sr. Fernando um excelente funcionário que te recomenda o melhor que houver para comer !!!
EliminarObrigado Rosa
ResponderEliminar:))
Também me lembro de ler este episódio quando o contaste sumariamente à nossa amiga Pusinko.
Nunca comi gaspacho... mas mesmo sem provar, acho que o troco por uma açordinha de marisco, como lembrou a Catarina.
Quanto à Casa do Alentejo... estive ainda no mês passado lá à porta... e ainda espreitei a escadaria. Mas a hora não era favorável a uma visita... e fiquei a suspirar por uma oportunidade para lá voltar com tempo.
Beijinhos (mas servidos quentes)
(^^)
Ementa: Umas azeitonas e um queijinho de Serpa para começar; um gaspacho; um grão á campaniço; e de sobremesa, um bolo pôdre. Tudo isto acompanhado com vinho tinto de Pias. É de comer e chorar por mais. De seguida sento-me num sofá, há por lá alguns na Casa do Alentejo e em 10 minutos estou a "roncar" ... e que rica sesta !!!
ResponderEliminarPodias ter dito que tinhas vindo a Lisboa que eu ia ter contigo e fazia-te uma visita guiada. É linda !!
Obrigado Afrodite
Boa tarde,
ResponderEliminarAçorda boa é aquela original, agua, pão, azeite, alhos, coentros e ovo, o resto são variações.
Hoje comentei num outro blog este mesmo video revelador, de quem nos governa é o sistema financeiro especulativo.
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/
Absolutamente de acordo em relação à açorda alentejana.
EliminarEm relação ao video, quem governa o Mundo especula quem se deixa especular, mas que é impotente para mudar algo.
Obrigado António
No Algarve temos o "arjamolho" para refrescar os dias de verão e acompanhar as sardinhadas. :)
ResponderEliminarTeria ouvido, vagamente, falar em "arjamolho", mas não conhecia. Confeccionada com pão, tomate, pimento, pepino, azeite, vinagre e sal. Vi no Wikipedia. Idêntico ao "gaspacho". Ainda não percebi o que andamos a querer fazer com pratos de "nouvelle cuisine", quando temos cozinha tradicional tão esplendorosa e boa !
EliminarObrigado Luísa