Vou trazer aqui em dez publicações, trinta
sonetos de Manuel Maria Barbosa du Bocage (Elmano Sadino), pseudónimo adoptado em
1790, quando da sua adesão à Academia das Belas Letras ou Nova Arcádia. Bocage
é um dos nossos melhores poetas, embora não lhe seja reconhecida a sua
genialidade, visto ser basicamente conhecido pelas suas anedotas obscenas ou
ousadas. Escolhi trinta sonetos, dez da poesia lírica, dez de poesia satírica e
outros dez da poesia erótica.
Alguns links sobre a poesia de Bocage, bem como onde poderão encontrar alguns livros editados do poeta:
https://www.bertrand.pt/autor/bocage/9129
https://www.wook.pt/livro/poesias-eroticas-bocage/223553
https://www.fnac.pt/Antologia-de-Poesia-Erotica-de-Bocage-Bocage/a1320322
Na RTP
Entrevista
a Daniel Pires, presidente do Centro de Estudos Bocagianos sobre a obra
satírica e erótica do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage, com visita à exposição
"2005 Ano Bocage", Comemorações do Bicentenário da Morte de Bocage,
patente no Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal realizada por Henrique
Félix.
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/poesia-erotica-e-satirica-de-bocage/
Na TSF
No
Município de Setúbal
https://www.mun-setubal.pt/livro-valoriza-poesia-erotica/
Sobre
a artista plástica Dina de Sousa:
http://artistasportugueses.weebly.com/dina-de-sousa.html
Lírica
Em que estado, meu bem, por ti me vejo,
Em
que estado infeliz, penoso, e duro !
Delido
o coração de um fogo impuro
Meus
pesados grilhões adoro e beijo
Quando
te logro mais, mais te desejo,
Quando
te encontro mais, mais te procuro,
Quando
mo juras mais, menos seguro
Julgo
esse doce amor, que adorna o pejo.
Assim
passo, assim vivo, assim mesu fados
Me
desarreigam da alma a paz, e o riso
Sendo
só meu sustento os meus cuidados
E,
de todo apagada a luz do siso,
Esquecem-se
(ai de mim !) por teus agrados
«Morte,
Juízo, Inferno e Paraíso.»
Satírica
Conhecem um vigário de chorina,
De
insulsa frase, da ralé maruja?
Sapo
imundo, que bebe ou que babuja
No
que deita por fora a Cabatina ?
Este
é um tal Franco, um tal sovina,
Que
orelhas mil e mil com trovas suja,
Digno
rival do mocho e da coruja
Quando
a voz desenfreia, a banza afina.
Faz
versos em francês, francês antigo,
Em
gíria de Veneza, e finalmente
Em
corrupto espanhol; leve o castigo:
Ele
diz que são bons, e os mais que mente;
Põe
mãos à obra, faze o que te digo:
Chicoteia
esse bruto, e crê na gente.
Erótica
Soneto do caralho decadente
Com
quem magoas o não digo! Eu nem te vejo,
Meu
caralho infeliz! Tu, que algum dia
Na
gaiteira amorosa filistria
Foste
o regalo do meu pátrio Tejo!
Sem
te importar o feminino pejo, (pudor)
Atrás
da mimosa virgem, que fugia,
Ficando
a terna, fadigada Armia,
Lhe
pegavas no coninho um beijo.
Hoje,
canal de fétida remela,
O
misantropo do país das bimbas,
Apenas
olha a cândida donzela!
Deitado
dos colhões sobre as tarimbas,
Só
com a memória em feminil canela
Às
vezes pívia (*) casual cachimbas.
(*) pívia = punheta. Por outras palavras: "às vezes ainda dás para bater algumas punhetas." Bocage revela neste poema que está velho e que a sua vitalidade já não é a mesma de antigamente.
A erótica é bem conhecida.
ResponderEliminarE bem apimentada.
Abraço
Verdade!
EliminarPedro obrigado
A minha avó materna era fã de Bocage.
ResponderEliminarE contava algumas estórias dele.
Muitos dos mais antigos ouviram contar histórias do Bocage.
EliminarMaria obrigado
Muito eclético e ousado o famoso Bocage.
ResponderEliminarLivre e desconcertante também, transitava por todas as fases da literatura e do seu tempo.
Bom conhecer mais,Ricardo
Bons dias Abraços
Ricardo Santos25/09/21, 08:33
ResponderEliminarEle era um contestatário da sociedade da altura. Sempre contra aqueles que faziam as "vigarices" e enganavam o povo. Um excelente poeta!
Lis obrigado