Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Alcunhas Alentejanas (1) – Azeiteiro (a)

É uma nova rúbrica, baseada no livro de Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva, intitulado “Tratado das Alcunhas Alentejanas” (3.ª edição, Fevereiro de 2003), editado pela “Edições Colibri, Lda.”, Faculdade de Letras de Lisboa.


Pedi autorização à editora Colibri e o sr. Fernando Mão de Ferro escreveu-me e autorizou-me no dia 9 deste mês (Sem problemas. Parabéns pelo projecto.

Fernando Mão de Ferro) que avançasse com estas pequenas publicações. Dos autores, tentei contactar com um deles, visto que o outro, infelizmente, já faleceu, mas até agora não obtive qualquer resposta. Os textos  que publicarei não irão plagiar o livro. Irei tratar os textos de outra maneira e de algum modo publicitarei o “Tratado das Alcunhas Alentejanas”, através destes “posts”. É, como já frisei, um livro/tratado extremamente interessante e digno que figurar numa prateleira de uma biblioteca pessoal. Nele foram tratadas cerca de 20.000 alcunhas, por todo o Baixo e Alto Alentejo.

Esta publicação terá 52 números (2 voltas ao alfabeto de 26 letras) porque queremos apenas chamar à atenção dos leitores sobre a importância e o trabalho realizado. Escolheremos as alcunhas a tratar, uma por cada letra do alfabeto português, de A a Z. Foram também incluídas, as letras K, W e Y.

Tratado das Alcunhas

Azeiteiro (a) – masculino ou feminino, cognome individual, designação familiar, alcunha adquirida, designação assumida, designação rejeitada, alcunha de tratamento, alcunha de referência, passagem a apelido; classificação: física / profissional; história: Indivíduo que anda sempre com o cabelo oleoso e que não lava a cabeça (Montemor-o-Novo); o alcunhado é vendedor de azeite (Monforte).
(In Tratado das Alcunhas Alentejanas”, 3.ª edição, Fevereiro de 2003)


Priberam (online)

a·zei·tei·ro
(azeite + -eiro)
adjectivo
1. Relativo a azeite.
adjectivo e nome masculino
2. Que ou quem produz ou vende azeite.
3. [Portugal, Informal, Depreciativo]  Que ou quem é considerado ignorante, simplório. = PACÓVIO, PAROLO
nome masculino
4. Recipiente para guardar azeite. = AZEITEIRA
5. [Figurado]  Pessoa cheia de nódoas.
6. [Informal]  Indivíduo que explora prostitutas. = CHULO, PROXENETA, RUFIÃO
Palavras relacionadas: 
"azeiteiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/azeiteiro [consultado em 15-06-2020].

Porto Editora (online)

a.zei.tei.ro ɐzɐjˈtɐjru
nome masculino
1. vendedor de azeite
2. pessoa cheia de nódoas
3. vaso ou almotolia para azeite, azeiteira
4. popular proxeneta
5. popular parolo
6. popular grosseirão
adjectivo
1. relativo a azeiteda indústria do azeite
2. popular parolo
3. popular grosseirãoordinário

14 comentários:

  1. É incrível a quantidade de equivalências ou significados, que uma palavra tem na Língua portuguesa. Variando, ainda, de região para região.

    Quando vim viver para o Norte faziam-me muita confusão certas palavras que no Alentejo tinham um sentido diferente.
    Essa do «azeiteiro» é uma delas. Aqui tem um sentido pejorativo, lá é simplesmente o homem que faz e vende o azeite.

    E pronto. Sei que tudo isto tu explicas detalhadamente no teu texto mas quis também dar a minha achega. Espero que não te zangues.
    Um abraço
    Fica bem.

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    1. O que me entristece é que tendo nós uma língua riquíssima, pejada de alcunhas, palavras, palavrões, etc. necessitemos de procurar noutra línguas termos que não nos dizem absolutamente nada. Opinião minha e pessoal, claro !!!
      Obrigado Janita

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  2. Antevejo ser interessante esta tua nova rubrica. 👍
    Sabes quem acho que a iria apreciar se por cá passasse?
    - O Prof. João Paulo. Ele apreciava sobremaneira a riqueza linguística da Língua Portuguesa.

    Hoje em dia já quase todos os trabalhadores são doutores, engenheiros ou mestres... técnicos disto ou profissionais daquilo... mas já tempos houve em que o nome da profissão era dado pelo ofício de cada um.
    Assim, o azeiteiro fazia azeite, o tanoeiro as pipas, o funileiro os funis e toda a quinquilharia feita de lata... e até os paneleiros apenas faziam panelas! 🤣

    Beijinhos minhotos
    (^^)

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    1. Posso tentar redireccioná-la para o Professor, talvez ele ache interessante como dizes.
      Emendei um erro que tinha no corpo do texto. As cores de fundo do copy/past do Priberam e do Porto Editora, vão ficar assim, porque é diferente e até não desgosto !
      Obrigado pela visita Clara

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  3. A Janita lembrou-se do mesmo que eu - no Centro e Norte é bem diferente.
    Aquele abraço

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    1. Sim, os nomes dados por nós, Povo, variam muitas vezes de província em província.
      Obrigado Pedro

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  4. Interessante como a língua portuguesa é rica, Ricardo.
    Gosto muito desse tipo de leitura ,qualquer palavra que pairar duvidas vou logo no dicionário. Azeiteiro não é muito comum ouvir por aqui, mas não difícil de entender como vendedor de azeite.
    E interessante também as diferenças de regiões para regiões e no nosso caso o português do Brasil, sendo a maior diferença a fonética _como se pronunciam as palavras. O vocabulário também bem diferente _ para dar um exemplo aqui falamos xícara aí chávena, suco é sumo, celular é telemóvel, sorvete é gelado... uma infinidade Ricardo rs
    Já me acostumei, mas algumas ainda preciso pesquisar.
    Gostei da rubrica , abraço e boa noite, aí quase bom dia!

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    1. Na realidade, o Português de Portugal e o Português do Brasil são duas línguas muito ricas em vocabulário.
      Obrigado Lis

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  5. Esta é uma rúbrica que vou gostar!!
    Vou ler algumas palavras que de certo não oiço ou leio há décadas.
    Para começar conheço a palavra “azeiteiro”, mas apenas dois dos seus significados: pessoa que fabrica/vende azeite e o nome do recipiente.
    : )

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    1. Pode ser que consiga estender e fazer duas voltas ao alfabeto, embora inicialmente tenha falado só numa.

      Existem tantas alcunhas, "19.126, distribuídas por 37 concelhos alentejanos, 88,8% atribuídas a indivíduos do sexo masculino e 7,6% a indivíduos do sexo feminino, e 3,6% atribuídas a ambos...".

      O intuito destas publicações que certamente irei fazer em duas voltas de 26 "posts", uma por cada letra do alfabeto, somará no final 52 alcunhas que eu escolhi/escolherei, mas é tão somente uma achega a um livro que me parece muito interessante de possuir e de folhear, com atenção.

      Obrigado Catarina

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  6. Gostei muito desta rubrica.
    Azeiteiro o homem que vende azeite e azeiteiro parolo, são expressões que conhecia e se usam por aqui.

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    1. Ficaste a saber que azeiteiro é no nosso Alentejo: "Indivíduo que anda sempre com o cabelo oleoso e que não lava a cabeça (Montemor-o-Novo); o alcunhado é vendedor de azeite (Monforte)."
      Obrigado Manuela

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  7. Devem vir a aparecer coisas bem interessantes por aqui!
    Aguardam-se "novos episódios"

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    1. Para futuras 51 publicações, depois desta, de cerca de quase 20.000 que foram as tratadas pelos dois professores no livro, espero que venham a ser boas escolhas.
      Obrigado Boop

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!