Dá a surpresa de ser
Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.
Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.
E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.
Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?
10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.
sexta-feira, 31 de agosto de 2018
Recordações do dia 7 de Outubro de 1974
Algures
pelas terras circundantes em Santarém
O nosso grupo. Em cima: Eu, Alves, e o Apolinário; Em baixo:
Cabaço, Sardinha e o Valadeiro
O Alves, o Alegria e eu, na semana de campo em Vale de
Cavalos
O 5.º Pelotão, do 3.º Esquadrão. 4.ª recruta do CSM de
1974 (Outubro, Novembro e Dezembro).
“Meus senhores isto aqui a Cavalaria é outra
tropa. Aqui vocês são dois dedos acima de polícia, três abaixo de cão !”… já
nem me lembro quem disse isto. Ao mesmo tempo ainda bem que me enganei na estação e em vez de sair em Santarém
saí em Torres Novas, uns bons quilómetros à frente. Logo no primeiro dia
fartei-me de gastar dinheiro. Um carro de aluguer para me levar de retorno a
Santarém, à EPC, Escola Prática de Cavalaria (Destacamento), onde penso que
hoje, ainda é o quartel da GNR ou da PSP, já não me lembro. Também já não paro
nesta cidade escalabitana há alguns anos. O destacamento fechou ao terminar
esta recruta de instruendos do CSM (Curso de Sargentos Milicianos) e, logo de
seguida, quando da descolonização veio a alojar ex-colonos, os polemicamente
chamados de "retornados". Como costumo dizer, andei a fechar quartéis.
Um na recruta e outro na especialidade.
A Escola Prática de Cavalaria também já fechou.
Lembro-me das palavras da minha Mãe, quando a guerra em África começou –
“Quando chegar a tua altura de ires à tropa, a guerra já acabou !” – estávamos
nessa época, a meio da década de 60. A verdade é que, passados 10 anos, ainda
estive mobilizado para Angola e acabei por ir formar batalhão em Santa
Margarida, o Bcaç (Batalhão de Caçadores) 4513, no Verão “quente” de 1975.
O táxi parou à porta de armas do destacamento. Paguei e entrei. Mostrei os meus
documentos. Com o cabelo por cortar, esperavam-me na cauda da fila, um grupo de
três alentejanos. Era dessa fila de mancebos que se ia alimentando a feitura
dos pelotões, para os dois esquadrões possíveis.
- Ò nosso instruendo !!!… - dizia o Cabaço com entoação alentejana - cabelinho
comprido hem ??!! Valadeiro e Sardinha riam. No dia seguinte esperava-me o
corte do dito, no “Gasolinas”, que era o cabo responsável pelo combustível e
que fazia um biscate de barbeiro.
Ao final da tarde, estavam formados dois esquadrões de recrutas, com 5 pelotões
cada, e com mais ou menos 35 homens por pelotão. Tudo isto era o Curso de
Sargentos Milicianos do 4.º Turno de 74, em Santarém. Nas Caldas e em Tavira
também sairiam recrutados futuros sargentos milicianos neste mesmo turno. O 25 de Abril já tinha acontecido, estávamos em Outubro. A EPC tinha feito
história nessa data, com a sua coragem e audácia, liderada por homens como o
Capitão Salgueiro Maia e o alferes Maia Loureiro.O alferes era por sinal o comandante do 4.º Esquadrão que ali se tinha acabado
de formar. O meu esquadrão, o 3.º, era comandado pelo Tenente Miguéis.
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Recordações que ficam para a vida inteira.
ResponderEliminarUm abraço, bom fim-de-semana e um Setembro, pleno de alegria e harmonia para todos nós
Recordações que nos assolam a todos nós e que delas necessitamos para viver.
EliminarObrigado Elvira
Pese embora as boas recordações que se possam ter, ainda bem que o serviço militar passou ser voluntário... :)
ResponderEliminarA existência de tropa somente se justifica quando há guerra, por isso concordo com o voluntariado. Houve uma altura a seguir ao 25 de Abril que à tropa cabiam acções de ajuda às populações e outras actividades de voluntariado que deveriam continuar a existir, nomeadamente agora com os fogos !
EliminarNo meu tempo era-se miliciano e quando terminava passava-se à
disponibilidade !
Obrigado Luísa
Chego no momento de ler esta realidade vivida por si, Ricardo. O terror de se ter de ir para guerra era a aflição de muitas famílias que tinham filhos homens. Jovens. Uma grande dor.
ResponderEliminarGostei muito de ler este excerto porque não se devem perder as memórias... as nossas vidas.
Todos devemos ter a consciência de que as forças militares servem para assegurar a paz de um País e quem assim não pensa não tem a menor ideia do como é formada uma nação.
Já estava com saudades daqui!
Beijinhos.
Primeiro podes tratar-me por Ricardo, se quiseres claro !
EliminarEu não cheguei a ir a África, embora estivesse mobilizado, como escrevi. Nessa altura, Angola já estava independente e o que faziam as nossas tropas era enterrar os mortos dos vários movimentos de libertação (UNITA, FNLA e MPLA !) e ajudar as populações.
Para o comum dos cidadãos a tropa deve ser voluntária, exercendo um voluntariado activo junto do povo, que somos nós, e principalmente nas zonas do interior. De resto a tropa existente, como defensores da Nação, devem ser profissionalizados, mantendo somente um efectivo mínimo, já que os custos são muitos com os profissionais do exército.
Eu dispenso guerras e penso que todos n´so !!!
Obrigado mz
Ficava-te bem o bigode!! :)
ResponderEliminarRecorda, Ricardo...recordar é (re)viver a mocidade!
O meu ex também assentou praça em Santarém, creio que em 65 e o meu genro, vinte e tal anos mais tarde, também. Foram ambos de Cavalaria...a única coisa que têm em comum!
Bonito este teu recordar. :)
O bigode nasceu cedo comigo e durou até 2006 !
EliminarEu estive em Cavalaria, depois em Artilharia e por fim em Infantaria, já que o meu batalhão era um Batalhão de Caçadores.
Dispenso a guerra, não me parece que deva ser o futuro da humanidade, senão vejamos os casos dos países que não conhecem outra coisa que não a guerra ! :(
Obrigado Janita
Olha para o que lhe deu! Lembrar-se desses tempos difíceis....
ResponderEliminarRecordar é (re)viver, não é, Ricardo?
Recordar é (re)viver sim, Graça ! Foram tempos de alguma maneira agradáveis, porque tive a convivência de pessoas "porreiras" ! :))
EliminarAbraços para Vocês e Obrigado
De bigode? Quase não te reconhecia! :)
ResponderEliminarComo disseste foram bons tempos e ainda bem que os recordaste com prazer.
Gostei de ver Ricardo!
Foram apesar de tudo bons tempos. Gente honesta e bons camaradas de tropa !
EliminarObrigado Manuela
Também eu dispenso a guerra, mas não é por eu dispensar a guerra, que as guerras vão acabar. INFELIZMENTE!!!
ResponderEliminarTêm de ser os poderes a não quererem guerra e a pouco e pouco educar nesse sentido. Poderão não acabar na totalidade, mas como são movidas pelo negócio, se quem manda nesses negócios pensar na miséria que a geurra causa, talvez diminuam consideravelmente !
EliminarObrigado Teresa
Safei-me da tropa.
ResponderEliminarNão combina comigo.
Aquele abraço, boa semana
Ainda bem Pedro !
EliminarAbraço
Boa tarde a tropa fica sempre e ara sempre na nossa recordação, os Melos, salgados e outros mais, deviam ter uma recordação pesada de consciência pela guerra injusta e perdida desde o inicio em que eles lucraram economicamente por conta daqueles que morreram ou ficaram deficientes, deviam de estar presos no hospital da estrela que eu conheci bem.
ResponderEliminarFeliz semana,
AG
A guerra não faz sentido, nos tempos que correm. Dizem que a disciplina História é importante para a Humanidade, não voltar a cometer os mesmos erros que cometeu. Infelizmente, é uma justificação da "treta". A guerra é um negócio conseguido com a morte dos outros ! :((((
EliminarObrigado AG
Cuántos recuerdos nos traen las fotos antiguas.
ResponderEliminarFeliz mes de septiembre
Las fotos antiguas traen siempre recuerdos. Unas buenas y otras malas, con todo en la vida! Gracias Trini
Eliminar
ResponderEliminarJá naquela idade te ficava bem o verde! :D
Beijinhos a fazer continência
(^^)
Os instruendos de CSM era conhecidos pelos aspirantes "menstruados", por causa da divisa que tinha uma tira vermelha na diagonal.
EliminarPois, não é só o verde que me fica bem, aliás ficam-me bem todas as cores !!! :)))
(Minha Consciência: Convencido e Peneirento !)
Obrigado Afrodite
Eliminar"Aspirantes menstruados" é um nome e tanto!! 😊
Estou é aqui a pensar que se a tira fosse castanha...
😁😎
Se a tira fosse castanha, seriam aspirantes "cagados" talvez !!! :))
Eliminar... mas que conversa Afrodite !
Goste das lembranças, Ricardo
ResponderEliminarÉ uma fase inesquecível, de verdade!
Passado o medo das famílias as fotografias são marcas bonitas para recordar.
Excelentes e as fotos.
As recordações são muito importantes nas nossas vidas !
EliminarObrigado Lis
Estive no 4º esquadrão- 1º pelotão, nem me identifico na foto. Abraço. Antonio Luz
ResponderEliminarCaro António esta foto é do 5.º pelotão do 3.º esquadrão, por isso, não estás lá de certeza !
EliminarAndei aqui há uns meses a procurar uma página no Facebook sobre esta recruta em Santarém, mas nada encontrei. Nem consigo encontrar colegas de pelotão. Já oassaram muitos anos.
Desejo as maiores felicidades e obrigado por teres vindo comentar.
Abraço