Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

sábado, 26 de dezembro de 2020

Prémio Valmor, Ano de 1905, Avenida 5 de Outubro 6-8

Casa Malhoa, Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves. Encontra-se no final da Avenida 5 de Outubro, do outro lado da Maternidade Alfredo da Costa e tendo nas suas costas, do seu lado esquerdo, o Hotel Imaviz.

As fotos são referentes ao ano de 2018, sendo a primeira obtida através do “Google Earth”.

Arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962): 


“Natural de Lisboa, curso a Escola de Belas-Artes desta cidade, onde se formou com distinção. Seguiu depois para Paris, onde, como pensionista do Legado Valmor, frequentou o “atelier” Pascal (1) e satisfez provas que o habilitaram também com o diploma francês. Completou a sua formação com viagens de estudo através da própria França, Bélgica e Espanha, digressões demoradas e atentas, fixadas em muitos aspectos por magníficos desenhos que lhe forneceram elementos e sugestões para a temática decorativa e compositiva da sua obra.

Na década de trinta, desfrutando o apogeu da sua carreira, subscreveu os prédios construídos, na Avenida António Augusto de Aguiar, N.º 100; na Avenida da República, N.º 71; na Avenida Rodrigues Sampaio, N.º 158; na Avenida Ressano Garcia, N.º 24, e os dois prédios da Avenida de Berne, N.º 6 e 8.

Respeitante aos anos de 1905, 1912, 1914, 1915 e 1927, obteve o Prémio Valmor, respectivamente, com os edifícios da Avenida Cinco de Outubro, N.º 6-8, Alameda das Linhas de Torres, N.º 22 (semidemolido, hoje em ruínas, somente com as fachadas em pé!), Avenida Fontes Pereira, N.º 28, Avenida da Liberdade, N.º 206-218, e ainda com o da mesma artéria, N.º 176-180.

Nos anos de 1908 e 1912 foi distinguido com Menções Honrosas do mesmo Prémio, pelos prédios situados, respectivamente, na Avenida da República, N.º 45, tornejando para a Avenida Visconde Valmor (já demolido, em 1949/1950!), e na Praça Duque de Saldanha, N.º 12, tornejando para a Avenida Praia da Vitória, N.º 44, este existente e bem conservado (começa a apresentar sintomas de degradação!).”

In Bairrada, Eduardo Martins, “Prémios Valmor 1902-1952”, Edição 1988, CML. (sic)*

“http://www.priberam.pt/dlpo/sic” - *sic |sique| (palavra latina)

Advérbio: Sem alteração nenhuma; tal e qual. = assim

(1) - Jean-Louis Pascal (04-06-1837 – 17-05-1920) foi um arquitecto francês.

Acontecimentos referentes à década:

1902 - Inauguração do elevador de Santa Justa;

1903 - Publicação do novo regulamento de salubridade para as construções urbanas;

1904 – Aprovação do Plano Geral de Melhoramentos, apresentado pelo engenheiro Ressano Garcia (1847-1911);

1905 – Desenvolvimento das construções ao longo da Avenida Fontes Pereira de Melo e da futura Avenida da República;

1905 - Jardim Zoológico, nas Laranjeiras, Raul Lino;

1907 – Animatógrafo do Rossio;

1908 - Projecto para o Parque Eduardo VII do arquitecto Miguel Ventura Terra.


8 comentários:

  1. Há alguns anos passei por aí com os meus pais e uma das minhas irmãs. Gostei de recordar.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se cá voltares agora, esta obra de arte arquitectónica, tem por trás um "aborto" em cimento com uma altura descomunal que causa mau estar ambiental a tudo o que está à volta :(.
      Gabriela obrigado

      Eliminar
  2. E esses abortos arquitectónicos depois tapam e escondem o que é belo.
    Aquele abraço, boa semana

    ResponderEliminar
  3. Gostei de ver, embora calcule que agora está tudo bem diferente.
    Boa semana Ricardo

    ResponderEliminar
  4. Mas que penteado que ele arranjou! Era bem melhor como arquiteto! 😆

    Gosto imenso dos pormenores da casa, os azulejos em azul e amarelo gema de ovo, a janela grande e os contornos do estilo Arte Nova.

    Se as casas tivessem rodinhas, deslocavam-se estas maravilhas para locais onde não fosses abafadas pelos prédios de betão, ferro e vidro.
    Admiremo-las enquanto estão de pé!

    Obrigada pelo teu contributo na divulgação das "joias" de arquitetura que ainda vão resistindo na cidade de Lisboa.

    Beijinhos bem penteados
    (^^)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O penteado é estranho, parece do tempo dos reis :) !
      Se vires no Google quando lá estiver, eventualmente, o prédio de betão que lá está por trás, até assusta e ofusca no mau sentido esta maravilhosa obra arquitectónica !
      Clara obrigado

      Eliminar
  5. Passava bastante por esses lados, há uns anitos atrás... quando essa ode ao cimento, ainda não tinha sido erguida!... Tão harmónico, como o CCB ao lado dos Gerónimos...
    Um grande abraço!
    ana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Garanto-te que é bem diferente dos Jerónimos com o CCB. Aquilo, nesta zona da Avenida 5 de Outubro, ficou um horror. Tempos modernos, onde o dinheiro é quem manda :(( !
      Ana obrigado

      Eliminar

Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!