Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Discos Vinil (3) Por Este Rio Acima

Nome: Por Este Rio Acima

Autor: Fausto Bordalo Dias

Ano: 1982

Produção: Eduardo Paes Mamede

Intérprete/s: Fausto Bordalo Dias

Editora: Triângulo TR 002/3

Texto:

Mais uma obra de arte da “Música Popular Portuguesa”. Esta da autoria de Fausto Bordalo Dias.

É o primeiro disco de uma trilogia que inclui ainda, os álbuns “Crónicas da Terra Ardente” (1994) e “Em Busca das Montanhas Azuis” (2011). Este “Por Este Rio Acima” baseia-se nas viagens de Fernão Mendes Pinto, relatadas no seu livro “Peregrinação” de 1614, enquanto que o seguinte, “Crónicas da Terra Ardente” foi inspirado pela “História Trágico-Marítima” de 1735, reunido por Bernardo Gomes de Brito.

“Por Este Rio Acima” é considerado geralmente pela crítica um dos álbuns mais marcantes da “Música Popular Portuguesa” das últimas décadas. Em 2009, este trabalho foi considerado o 4.º melhor álbum da década de 1980, pela revista Blitz, que recorreu a um grupo de mais de 50 personalidades ligadas ao mundo da música.

(In Wikipedia)

Comentário de Fernando Ribeiro (do blogue "A Matéria do Tempo) que aqui transcrevo dada a sua importância:

Magnífico disco de um magnífico cantautor. Fica indelevelmente para a história da música portuguesa.

Já agora, quero chamar a atenção para o livro que inspirou Fausto, a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, que é o mais emocionante livro de aventuras que alguma vez já li. Os filmes de Indiana Jones, que Spielberg realizou, não lhe chegam aos calacanhares. E há muito mais de verdadeiro na "Peregrinação" do que se imagina.

A frase que dá o título ao disco, "Por este rio acima", é usada pelo próprio Fernão Mendes Pinto, quando ele e um grupo de portugueses subiram por um rio acima na China, para assaltarem um templo cheio de riquezas. O assalto correu mal, eles foram capturados e levados para Pequim, a fim de serem julgados e condenados.

A viagem até Pequim permitiu a Fernão Mendes Pinto fazer uma descrição vivíssima da China rural, que ele percorreu então. Em Pequim, ele e os seus companheiros terão sido mantidos durante três dias numa cisterna, com água cheia de sanguessugas pelo peito! Foram julgados e condenados, ocasião que Fernão Mendes Pinto aproveita para reconhecer que eles mereceram o castigo e faz um grande elogio à justiça chinesa. A condenação consistiu na sua deportação para a fronteira do império, a fim de combaterem contra os atacantes tártaros. Foram colocados, portanto, na Grande Muralha da China.

Uma das razões pelas quais Fernão Mendes Pinto foi alcunhado Fernão Mentes Minto, foi porque se achava que era impossível existir uma muralha tão grande como a que ele diz que encontrou na China. Ora todos nós sabemos que Fernão Mendes Pinto não mentiu e que a Grande Muralha da China existe mesmo.

Muitos outros factos contados por ele na "Peregrinação" foram comprovadamente verdadeiros. Por exemplo, escavações arqueológicas feitas em Pequim mostram que a descrição que ele faz da cidade, tal como era no séc. XVI, é verdadeira, a tal ponto que os chineses consideram que a descrição dele é a mais exata que existe. Os japoneses, por seu lado, tomam com verdadeira a descrição que Fernão Mendes Pinto faz do primeiro desembarque de portugueses no Japão, assim como da introdução das armas de fogo no país. Etc.

Que Fernão Mendes Pinto tenha vivido todas as aventuras que conta no livro, parece altamente inverosímil. Mas se as não viveu, pelo menos informou-se muito bem informado.

Enfim, um disco e um livro a não perder.

Fotos:



Músicas:

O Barco Vai de Saída Fausto Bordalo Dias, espectáculo no CCB.

A Guerra é a Guerra Fausto Bordalo Dias, espectáculo no CCB.

A Voar Por Cima Das Águas Fausto Bordalo Dias, com Orlando Costa, , espectáculo no CCB.


Olha o Fado Fausto Bordalo Dias, com Sérgio Godinho e José Mário Branco, espectáculo “Três Cantos”

Por Este Rio Acima Fausto Bordalo Dias, espectáculo no CCB.

Navegar, Navegar Fausto Bordalo Dias, espectáculo no CCB.

18 comentários:

  1. Uma bela homenagem ao Fausto Bordalo Dias, que adoro.
    O álbum 'Por este Rio Acima' é um dos melhores da MPP.

    Obrigada, Ricardo.

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    1. É verdade, está considerado um dos melhores álbuns da MPP.
      Janita obrigado

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  2. Navegar, navegavas.
    Votos de Santo Natal

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  3. __ Fernão Mendes Pinto mentes?!
    __ Minto!

    “Peregrinação” um dos livros da minha vida.

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  4. Gosto tanto das músicas do Fausto!!
    Cheguei a saber cantar algumas de cor.
    Obrigada pela partilha Ricardo

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    1. Dão mesmo vontade de cantar com elas.
      Manuela obrigado

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  5. Ora bem, já tenho música (boa) para ouvir no fim-de-semana... e recordar bons (velhos) momentos.
    Valeu Ricardo!
    Beijo, bom fim-de-semana.

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    1. Boas cantorias, é música muito boa e agradável !
      Teresa obrigado

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  6. Gosto taaanto!!
    Beijinhos por esse rio acima
    (^^)

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    1. Eu já fui rio acima aqui no Tejo, aqui há uns anos. Este álbum é assombroso de qualidade.
      Clara obrigado

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  7. Magnífico disco de um magnífico cantautor. Fica indelevelmente para a história da música portuguesa.

    Já agora, quero chamar a atenção para o livro que inspirou Fausto, a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, que é o mais emocionante livro de aventuras que alguma vez já li. Os filmes de Indiana Jones, que Spielberg realizou, não lhe chegam aos calacanhares. E há muito mais de verdadeiro na "Peregrinação" do que se imagina.

    A frase que dá o título ao disco, "Por este rio acima", é usada pelo próprio Fernão Mendes Pinto, quando ele e um grupo de portugueses subiram por um rio acima na China, para assaltarem um templo cheio de riquezas. O assalto correu mal, eles foram capturados e levados para Pequim, a fim de serem julgados e condenados.

    A viagem até Pequim permitiu a Fernão Mendes Pinto fazer uma descrição vivíssima da China rural, que ele percorreu então. Em Pequim, ele e os seus companheiros terão sido mantidos durante três dias numa cisterna, com água cheia de sanguessugas pelo peito! Foram julgados e condenados, ocasião que Fernão Mendes Pinto aproveita para reconhecer que eles mereceram o castigo e faz um grande elogio à justiça chinesa. A condenação consistiu na sua deportação para a fronteira do império, a fim de combaterem contra os atacantes tártaros. Foram colocados, portanto, na Grande Muralha da China.

    Uma das razões pelas quais Fernão Mendes Pinto foi alcunhado Fernão Mentes Minto, foi porque se achava que era impossível existir uma muralha tão grande como a que ele diz que encontrou na China. Ora todos nós sabemos que Fernão Mendes Pinto não mentiu e que a Grande Muralha da China existe mesmo.

    Muitos outros factos contados por ele na "Peregrinação" foram comprovadamente verdadeiros. Por exemplo, escavações arqueológicas feitas em Pequim mostram que a descrição que ele faz da cidade, tal como era no séc. XVI, é verdadeira, a tal ponto que os chineses consideram que a descrição dele é a mais exata que existe. Os japoneses, por seu lado, tomam com verdadeira a descrição que Fernão Mendes Pinto faz do primeiro desembarque de portugueses no Japão, assim como da introdução das armas de fogo no país. Etc.

    Que Fernão Mendes Pinto tenha vivido todas as aventuras que conta no livro, parece altamente inverosímil. Mas se as não viveu, pelo menos informou-se muito bem informado.

    Enfim, um disco e um livro a não perder.

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    Respostas
    1. Fernando, mais uma vez a sua experiência e cultura vêm enriquecer uma publicação do meu blogue. Faço questão de acrescentar o seu texto ao corpo da publicação, por achá-la extremamente importante relativamente ao escritor português Fernão Mendes Pinto e ao seu livro "Peregrinação".

      Fernando, um Muito Obrigado pelos seus comentários !!!

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    2. Excelente decisão Ricardo, os comentários do Fernando Ribeiro são magníficos.

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    3. O Fernando Ribeiro é uma das pessoas que se o nosso grupo fizer um novo almoço, faço tenções de ir buscar, pessoalmente. O seu Blogue "A Matéria do Tempo" é um blogue de cultura e de assuntos diferentes e interessantes que nos levam a outros destinos. Tem publicado sobre muitos artistas em Portugal e divulga sempre que pode a Cultura Portuguesa.

      Clara obrigado

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  8. Já conhecia muitas destas faixas musicais de Fausto... mas não o que teria inspirado, tão notável disco! Grata por tão enriquecedora partilha, Ricardo!
    Um grande abraço!
    Ana

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    1. Ana a partilha está enriquecida com o texto que o Fernando Ribeiro do blogue "A Matéria do Tempo" me comentou e eu incluí no corpo da publicação.
      Ana obrigado

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!