Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Poesia (9) – Augusto Gil e Fernando Pessoa

Augusto Gil (31-07-1873 – 26-02-1929)

Passeio de Santo António, dita por João Villaret. Esta gravação data de 1957, foi efectuada no Estúdio A da Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, e pertence à Banda 1 da Face B do disco EP de 45 R.P.M. editado pela marca "Alvorada", etiqueta da "Radio Triunfo".

Fernando Pessoa (13-06-1888 – 30-11-1935)

Liberdade, dita por João Villaret. Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15.ª ed. 1995).  - 244.

4 comentários:

  1. É por esta doçura imensa, que Augusto Gil colocava nos seus poemas, que desde criança me afeiçoei à sua poesia e toda a Poesia em geral:

    (...)
    Sem suspeitarem de que alguém os visse,
    Trocaram beijos ao luar tranquilo.
    O Menino, porém ouviu e disse:
    Ó frei António, o que foi aquilo?...

    O santo, erguendo a manga de burel
    Para tapar o noivo e a namorada,
    Mentiu numa voz doce como o mel:
    Não sei que fosse. Eu cá não ouvi nada...

    Uma risada límpida, sonora,
    Vibrou em notas de oiro no caminho.
    Ouviste, Frei António? Ouviste agora?
    Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho.

    Tu não estás com a cabeça boa...
    Um passarinho a cantar assim!...
    E o pobre Santo António de Lisboa
    Calou-se embaraçado, mas por fim;

    Corado como as vestes dos cardeais,
    Achou esta saída redentora:
    Se o Menino Jesus pergunta mais,
    Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!

    Voltando-lhe a carinha contra a luz
    E contra aquele amor sem casamento,
    Pegou-lhe ao colo e acrescentou:
    Jesus, São horas...
    E abalaram pró convento.

    Uma delícia este Passeio de Santo António.

    O poema de FP, já o publiquei uma ou duas vezes, ifelizmente, aqui, o tom demasiado corrido comn que Villaret o declamou, roubou-lhe toda a beleza.
    Esta é somente a minha opinião que, como qualquer outra, vale o que vale.

    Fica bem, Ricardo.

    Obrigada.

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    1. A declamação é sempre algo pessoal, da interpretação do poema de quem o lê e de quem o diz.
      Janita obrigado

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  2. Gosto muito de declamação, emociona- me sempre toda a emoção que é colocada na voz.
    A primeira mais suave e contida, é linda.
    A segunda dita com mais garra, transmite- nos toda a força da interpretação de Villaret e isso só prova a genialidade deste grande intérprete.
    Gostei muito, Ricardo

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    1. Tens toda a razão Manuela. O João dava vida e a sua interpretação à poesia que dizia.
      Manuela obrigado

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!