Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

A Contar pelos Dados (1) - O Encontro


Ele guiava o seu Porsche descapotável, numa estrada do interior. O vento fustigava-lhe a cara e o cabelo. Uma povoação aproximava-se rapidamente. Um cheiro a café vindo de algures fê-lo abrandar e olhar em redor. A 50 metros avistava-se um cruzamento e numa das esquinas um pequeno quiosque, com três mesas e umas quantas cadeiras, debaixo de uns chapéus de Sol, convidava a parar e a beber um café. Estacionou o carro na rua do lado contrário. Tirou o blusão do banco traseiro, colocou-o ao ombro e dirigiu-se para o quiosque. Sentou-se numa das cadeiras e virou-se para a empregada e disse:

- Traga-me um café por favor !

O café foi servido prontamente. Agradeceu e começou a bebê-lo, paulatinamente, como se tivesse todo o tempo do Mundo. Apesar de um pouco atrasado, o carro que detinha permitia-lhe recuperar os minutos que eventualmente perdesse, enquanto ali estivesse resfatelado, a saborear aquela bebida secular.
Levantou-se, pagou, encaminhou-se de novo para a viatura, e sentou-se de novo, ao volante. Ligou o motor e arrancou devagar. A limitação de velocidade dentro das zonas povoadas não era propícia a exageros.
No cruzamento seguinte, reparou numa florista. Parou com duas rodas em cima do passeio, mas de maneira que não prejudicasse o trânsito ou os traseuntes e avançou para a loja.

- Boa tarde ! Gostaria que me arranjasse uma dúzia de rosas !

Passaram uns 5 minutos. A florista dedicou-se a fazer um trabalho bem profissional com um arranjo e entregou-lhe as flores. Pagou e saíu.

Colocou o blusão no banco de trás, e as rosas ao lado. Ligou o carro e carregou no botão para a capota subir. Agora teria de ganhar algum tempo. Os 30 minutos de café e de flores, fariam com que tivesse de acelerar um pouco, aquela espectacular máquina. Entrou na auto-estrada e carregou pura e simplesmente  no “prego”. Rapidamente atingiu os 200km. Era 19:00 e tinha de estar no destino às 20:00. Ligou o rádio.

- ... Ao final desta primeira parte, Portugal vence por dois a zero a equipa de Chipre. Golos apontados por Cristiano Ronaldo, de cabeça, aos 10 minutos, a cruzamento de Quaresma e, por João Moutinho, de livre, aos 35 minutos...

Ouviu o resultado e mudou rapidamente de posto. Não estava com pachorra para ouvir relato futebolístico ou anúncios. O posto opcional era definitivamente a “Smooth FM”. Ouvia-se Jane Monheit, aquela mulher com uma voz fantástica e com uma cara maravilhosa. Começava a anoitecer e os faróis ligavam-se. A estrada passava rapidamente.

Eram 20:00 e ao longe já se avistava a casa, na penumbra. As janelas estavam iluminadas. Ela já chegara. Estacionou, pegou no blusão e no ramo de rosas e avançou para a porta de entrada. Entrou em casa. Passou pela cozinha. Um papel branco em cima da cozinha, com um lápis ao lado, tinha escrito

“Vem ter comigo. Espero-te no banho !”

Sorriu. Subiu ao andar de cima e entrou no quarto. Despiu-se rapidamente. Entrou nú, com o grande ramo de rosas na mão, na grande casa de banho que se situava no lado direito do quarto. Paula, à luz das velas, e com o cabelo preso, estava mergulhada num banho de sais e espuma. Riu-se para João.

- Vem.... Estava ansiosamente à tua espera !
- Aqui tens são para ti !
- São lindas ! 

João entrou na banheira e beijou-a na boca. Encostaram um ao outro e olharam para cima. O tecto da casa de banho, era envidraçado e lá fora, já se via a Lua e algumas estrelas.

31 comentários:

  1. Uma prosa deveras interessante contada pela ordem dos dados e dos desenhos neles representados. Espero que tenha continuação...Vais desculpar-me Ricardo, mas, inadvertidamente, apaguei o teu mail em que nos davas contas desta publicação e do Enigma anterior, de modo que não sei se há algo mais para além de nos dares a conhecer esta tua excelente faceta de contador de histórias.
    Certamente não é para serem os teus leitores a dar-lhe continuação, caso contrário tê-lo-ias referido agora. É que fiquei com essa impressão, quando li o mail há já uns dias. Confusão minha, decerto.
    Gostei desta primeira parte. :)

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    1. A história termina aqui. Os dados comprados na "Flying Tiger" por 5€ são definitivamente uma boa prenda para crianças e adultos, e para treinarem o seu cérebro a engendrarem histórias a um serão semanal, em vez de ficarem pregados com as mãos no "tablet", ou a ver a caixa mágica, apelidada pomposamente de televisão !
      Haverão mais história e talvez quem saiba lance o desafio de continuação, futuramente. Cada um de vocês escreve um dado e dá continuidade no seu blogue. Vamos ver ! :)

      Obrigado Janita

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  2. Ora bem !!! eheheh... Há aqui uma coisa "Muito Importante" a esclarecer !!!
    Deste-lhe o nome de "Encontro" !!! (???)
    Espero bem que no próximo, não tenhamos que levar flores para as nossas amigas nem ir preparados para tomar, com elas, um banho de banheira à chegada !!! :)))

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    1. Não andarás a sonhar demais, Rui?
      Põe-te com essas coisas e ainda pensam ( os mal intencionados, que tudo deturpam) que os nossos Encontros são prá ai alguma orgia.
      Lá uma rosa só te ficaria bem...:)

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    2. ahahah... Achas ???... rsrs... Haverá assim tão mal intencionados por aqui ! ... Só de ti, amiga ! :( ... rsrsrs

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    3. Rui, uma banheira daquelas recheada com uma donzela, e um tecto em vidro, a verem-se as estrelas, é extremamente convidativo ! :)
      Irão haver novas histórias, obviamente com outras faces dos dados.

      Obrigado e Abraço Rui

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  3. ahahah... Sabem que eu, quando li o post da "programação" do Ricardo com os próximos temas, entendi que teríamos que ser nós a escrever um texto baseado nos dados.
    Assim sendo, preparei um (muito mais reduzido, mas seguindo as regras) e enviei-o para o Ricardo ! rsrsrs
    Era este :

    “Esta mania que nós temos de ir de CARRO simplesmente p’ra tomar um CAFÉ na esquina ali perto ! … ☹ … O que vale é que mesmo lá ao lado há uma florista e isso deu-me um grande ideia para trazer uma FLOR para a minha mais que tudo, uma forma de “graxa” para poder ver à vontade o JOGO DE FUTEBOL na TV. eheheh
    O problema é que ainda tinha que ESCREVER uma carta e a NOITE ALTA aproximava-se “

    Desculpa lá, Ricardo que isto não tem a menor parecença com a tua excelente narrativa ! :) rsrsrs

    Abraço

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    1. Rui essa situação não está fora de cogitação. Vou amadurecer a ideia e agrada-me que, por exemplo, cada um escreva um dado, ou como tu sugeres cada um invente uma história !
      Abraço

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    2. Gostei do teu texto, e embora seja mesmo telegrama, contempla todos as figuras dos dados ! :)
      Abraço

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    3. Desculparás Ricardo, mas agrada-me mais a ideia de cada um de nós escrever um dado. Sempre o desenho, nos serve de inspiração, sabes?
      Amadurece lá a ideia...que o Rui já anda a treinar! :)

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    4. Eu estou de acordo contigo Janita. É muito mais interessante ver como cada um continua a história deixada pelo outro/anterior. Já fiz isso em tempos na Faculdade, com colegas e é muito desafiante !
      Obrigado

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  4. Uma interessante e romântica história. Eu adoro histórias.
    Abraço

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    1. Vão haver mais à conta dos "Dados" !
      Obrigado Elvira

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  5. Adorei a história, ainda não conhecia a tua faceta romântica.
    Sempre a surpreender!
    Beijos Ricardo

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    1. Eu sou um romântico, sempre fui e serei. Acho que teria tido algum futuro se me tivesse dedicado ás Letras, mas não aconteceu. Gosto imenso de escrever !

      Obrigado Manuela

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  6. Caro coetâneo Ricardo.
    Depois de ler este conto somente resta-me rogar:
    Max, traga meus sais centuplicado diluídos numa xícara de chá de lascívia.
    Caloroso abraço. Saudações bem urdidas.
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver, sem véus, sem ranços, com muita imaginação, autenticidade e gozo.

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    1. O conto acaba aqui Professor, não vai dar o resto do banho entre eles os dois. Não vai precisar dos sais centuplicado ! :))
      Abraço e obrigado

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  7. Imaginação à solta.
    Bestial.
    Uma nova rubrica deveras interessante.
    Aquele abraço

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    1. É capaz de ser um rúbrica interessante, em breve. Vamos ver se alguns escritores aqui desta praça, aceitam um futuro desafio de cada um escrever um "dado".
      Abraço e obrigado Pedro

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  8. Também não tinha percebido bem esta dos dados.
    Temos, pois, um Ricardo prosista/contador de estórias.
    A 200 km/hora pensei que ia acontecer algo desagradável; depois quando ele entrou em casa pensei que ia apanhá-la em flagrante... mas o bilhete fez-me pensar que não... : ))
    Isto é que tenho uma imaginação deturpada! : )

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    1. Catarina sempre escrevi, desde novo. Tenho alguma poesia e alguma prosa na gaveta. Gosto imenso de escrever e já tive desafios com escritos, a duas pessoas. Aqui até pode ser que seja a 6(12) mãos, se conseguir desafiar alguém !

      Não ia matar ninguém logo no primeiro conto :)... e depois a rapariga ficava de molho na banheira, sem companhia ? :))
      Não diria que tens a imaginação deturpada, mas deves ter muita imaginação !

      Obrigado

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  9. Gostei da história, gostei do conceito da tua nova rubrica... e gostei da ideia que ainda está a germinar na tua mente.

    Três LIKES! :))

    Beijinhos e parabéns

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    1. Vamos ver no que isto dá. Sei que temos muitas pessoas que escrevem bem, por isso,...

      Já lancei os dados mais duas vezes e tenho mais dois pequenos contos.
      Estou a treinar, nesta fase !

      As combinações são imensas que me diga a srª. Professora de Matemática ! :))

      Obrigado Afrodite

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    2. ahahahah
      Verdade! As combinações possíveis são imensas e como consideras também a ordem de saída dos dados, tens 46.656 formas diferentes de os dados te saírem! :))

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    3. São seis elevados à sexta potência, acho que é assim que se diz. Nunca fui bom em Matemática, eventualmente por ter tido um bom matemático, mas um mau professor :(

      Muito obrigado pela tua diligente e profissional colaboração, Afrodite

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  10. Gostei muito deste texto! Prendeu-me pela forma como está escrito e pela história!
    Quero ler os contos!
    um beijinho e boa noite
    Gábi

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  11. Muito bem, Ricardo! Gostei da história. Tinha anotado na minha agenda da cabecinha que queria cá vir ler a história dos dados, mas a minha cabecinha já não é o que era. Esqueci-me do agendamento e não calhou andar por aqui no momento da publicação. Fico agora à espera da próxima jogada literária. :))

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    1. Vou escrever mais sim, sempre gostei de o fazer !
      Obrigado Luísa

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  12. Ricardo, A-DO-REI.
    Que narrativa tão boa de se ir lendo, descontraída, fluída, espero que continue a "lançar" os dados, quero ler tudinho!

    Mimos ansiosos por mais ;)

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    1. Os dados vou continuar a lançar de certeza, porque tu não conheces a minha faceta de jogador. Ataco às Sextas à noite no Casino de Lisboa, lançar os dados... :))
      Obrigado "Em Busca da Esmeralda Perdida" !

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!