Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Lisboa (VI) – Passeio no Tejo

Um ex-colega meu do Liceu, o João Bernardino, deu-me a oportunidade de dar um passeio de barco e subir o Tejo até à foz do Trancão (Sacavém) e voltar a descê-lo até à Torre de Belém. Nesse passeio, eu e o meu filho fizemos algumas fotografias que vou exibir, do mesmo modo que tenho vindo a mostrar outros locais, desta linda cidade e maravilhoso país.
As fotos falam por si, e vão ser acompanhadas por duas músicas de um dos álbuns mais marcantes da “Música Popular Portuguesa”. Estou a falar-vos do extraordinário trabalho de Fausto Dias, “Por Este Rio Acima”, de 1982.

Sobre Fausto Dias, algumas palavras:

Oficialmente, Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias nasceu em 26 de Novembro de 1948, em pleno oceano Atlântico, a bordo de um navio chamado “Pátria” que viajava de Portugal para Angola. Foi nesta antiga colónia portuguesa que passou a infância e adolescência e começou a interessar-se por música. Filho de beirões, assimilou os ritmos africanos a que juntaria, mais tarde, os das suas origens lusas. Dez álbuns de originais num total de 12 discos publicados em 30 anos são a face palpável da carreira daquele que é hoje, possivelmente, o compositor e intérprete mais carismático da Música Popular Portuguesa. Quando editou “Por Este Rio Acima”, no já longínquo ano de 1982, Fausto Bordalo Dias estaria longe de imaginar a verdadeira revolução que esse seu disco iria causar no universo da música portuguesa. Até então, apenas José Afonso conseguira (com “Cantigas do Maio”, em 1972) elaborar uma obra tão radicalmente diferente de tudo o que existia e, simultaneamente, tão cheia de novos caminhos por explorar. Falo da música, mas também da poesia (ao nível da melhor que em terras lusas se tem publicado) e, ainda, de um conceito estético que, na realidade, só depois de “Por Este Rio Acima” tomou forma definitiva: a Música Popular Portuguesa, entendida como uma forma de identidade cultural multi-expressiva e não, como pretendiam os seus detractores, como um modelo de uniformização formal.

http://attambur.com/Noticias/20021t/fausto_em_dez_etapas.htm

Álbum original em “vinil” foi editado em 1982, pela Editora Sassetti, o qual aconselho vivamente terem em vossa posse, para se deleitarem no prazer da sua audição.

Algumas palavras que constam nos folhetos deste duplo álbum e das “Viagens de Fernão Mendes Pinto” relativo a estas duas composições de Fausto:

O Barco Vai De Saída

“Ainda muito jovem vim para Lisboa onde um tio meu me pôs ao serviço de uma senhora de geração nobre e parentes ilustres. Sucedeu-me então um caso que me pôs a vida em tanto risco que para a poder salvar me vi forçado a sair naquela mesma hora de casa, fugindo com a maior pressa que pude. Indo assim tão desatinado, entre outros medos, e sem trabalho que bastasse para minha sustentação, decidi embarcar-me para a índia, ainda que com pouca ilusões, já disposto a toda a ventura, ou má ou boa, que me sucedesse”.

A Voar Por Cima Das Águas

“Partimos desta Ilha dos Ladrões para o porto de Liampó, depois de termos tomado de assalto um barco de pescadores chins que àquela ilha chegaram muito descuidados e desordenados. Recompostos da miséria em que havíamos estado, navegámos com cinco embarcações ao longo da costa de Lamau. Informados em Chinchéu de que o Coja Acém estava surto num rio perto do porto de Lailó, para ali nos dirigirmos muito aparelhados para a briga final que iríamos ter com esse corsário. Iniciada a peleja, António de Faria arremeteu com tal fervor ao Coja Acém que lhe deu uma tão grande cutilada pela cabeça derrubando-o logo no chão, e tornando-lhe com outro revés que lhe decepou ambas as pernas de que se não pôde mais levantar. Esta vitória foi por nós festejada com grande alegria, continuando a nossa viagem, muito embandeirados, em guerra de corsários e incursões de boa pilhagem para nos refazermos de algumas coisas de que vínhamos faltos”.

6 comentários:

  1. Vamos ver essas lindas fotos. : )

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    1. Catarina as fotos perdem muita qualidade quando se faz um video em "Windows Movie Maker" e depois se exportam para ao Youtube. Os originais estão bons, aqui a resolução ficou medíocre. De qualquer maneira foi, não só uma viagem muito agradável, mas também apreciámos uma perspectiva de Lisboa vista de outro ângulo, para mim desconhecido.
      A excelente música do Fausto Dias ajudou imenso.
      Obrigado Catarina

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  2. Que bom, teres um ex-colega como o João Bernardino. Adoro passear de barco.

    Foi um prazer relembrar estes extraordinários temas musicais que marcaram uma época e que estiveram tão presentes na comunicação social; num tempo em que se valorizou melhor a cultura popular do nosso país.
    Adorei a tua estupenda reportagem fotográfica, tão bem acompanhada pela música, no registo que fizeste a partir do nosso querido Tejo.
    Que delicioso e bem aproveitado foi o teu passeio!

    As minhas felicitações ao exímio fotógrafo.

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    1. O João Bernardino foi um excelenter colega e amigo dos tempos do meu Liceu 4º. e 5º. anos, altura em como tu sabes se acabava o Curos Geral dos Liceus, para os actuais visitantes, 8º. e 9º. anos.
      Maria José sou mum fotógrafo amador. Como disse á Catarina, a qualidade perdeu-se muito, na exportação para o WMM.
      A reportagem, eu agradeço-a também ao meu filho, há aqui muitas fotos dele. Este reportagem fotográfica foi partilhada com ele.
      Obrigado Maria José

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    2. As minhas felicitações também para o teu filho.

      Cordiais beijinhos para os dois.

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    3. Dar-lhe-ei sim !
      Obrigado Maria José

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!