Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

sábado, 29 de abril de 2017

O Trovador de Giuseppe Verdi

É a última ópera que vou apresentar. O motivo de mostrar aqui este género musical foi criar a vontade em todos de ouvirem com prazer este tipo de música.


 Mais uma célebre Ópera, obrigatória conhecer.

A última escolha erudita, recai sobre a ópera de Giuseppe Verdi, “O Trovador”.

Resumo da história desta Ópera

A acção decorre em Aragão e Biscaia em começos do século XV, e, antes de fazermos um breve resumo do 1º acto, achamos por bem referir alguns factos do enredo, anteriores ao início da acção, que irão torná-la mais compreensível.
O velho Conde de Luna teve dois filhos, quase da mesma idade, que foram visitados por uma Cigana, que se terá debruçado sobre o berço do mais jovem. A Cigana é presa e, como a saúde da criança começasse a deteriorar-se, o velho Conde conclui que a Cigana a tinha enfeitiçado e manda queimá-la numa fogueira. Açucena, filha da Cigana, assiste à morte da mãe e jura vingar-se, raptando o filho mais novo do Conde para o lançar nas chamas da fogueira. Só que, perturbada pela emoção, Açucena engana-se e, em vez do filho do Conde, lança às chamas o seu próprio filho. Decide então criar como seu o filho do Conde, ao qual dá o nome de Manrico. Manrico, o Trovador.
Quando a acção se inicia, o velho Conde já morreu sucedendo-lhe o seu filho mais velho como o novo Conde de Luna.

1º. Acto

Começa no átrio do Castelo de Aliaferia, perto dos aposentos do Conde onde os Guardas estão alerta para capturar um Trovador que tem vindo fazer serenatas à Duquesa Leonora, a quem o Conde ama sem ser correspondido. Para passar o tempo, os Guardas pedem a Ferrando, o Comandante, que lhes conte a história do irmão do Conde - o que Ferrando faz entoando uma balada. Mais tarde, nos jardins do Castelo, numa escadaria que conduz aos aposentos de Leonora, a Duquesa confessa à sua aia Inês estar apaixonada por um Cavaleiro que se sagrou campeão num recente torneio. Leonora sabe que esse amor é correspondido já que todas as noites esse Cavaleiro-Trovador tem vindo cantar sob a sua janela. Quando Leonora e Inês se retiram para o interior do Castelo, chega aos jardins o Conde de Luna, no preciso instante em que se ouve, ao longe, a voz do Trovador. Acorrendo ao apelo, Leonora regressa e, tomando o Conde pelo Trovador, cai nos seus braços. É então que surge Manrico, que revela a sua verdadeira identidade, e que diz ter sido forçado a exilar-se em Aragão por ser partidário do Príncipe da Biscaia. O Trovador e o Conde batem-se em duelo e Leonora desmaia.

2º. Acto

Desenrola-se no acampamento dos Ciganos onde Açucena conta a Manrico aquilo que se passou com a sua mãe, morta pelo velho Conde de Luna, ao mesmo tempo que lhe revela os seus planos de vingança. Açucena diz ainda ter ficado surpreendida por Manrico ter poupado a vida ao jovem Conde quando o enfrentou no duelo, ao que Manrico responde "não ter sido capaz de o fazer, como se uma voz misteriosa lhe dissesse para não desferir o golpe mortal". A conversa é interrompida pelo chegada dum mensageiro do Príncipe da Biscaia. Nessa mensagem o Príncipe ordena a Manrico que assuma o comando das tropas que defendem a Fortaleza de Castellor. Mas o mensageiro é também portador duma outra notícia: acreditando na morte do Trovador, Leonora decidiu entrar para um Convento. É no claustro desse Convento que se passa a última cena do 2º Acto.
Aí chega o Conde de Luna com alguns dos seus homens decidido a raptar Leonora antes que ela faça os seus votos. Só que, antes que o Conde consiga levar avante o seu intento, chega o Trovador com os seus homens, e o Conde é repelido.

3º. Acto

Passa-se na Fortaleza sitiada de Castellor.
Fora da Fortaleza, os Soldados do Conde de Luna trazem à sua presença uma Cigana encontrada a rondar pela vizinhança. O Conde reconhece Açucena, a Cigana que ele julga ter morto o seu irmão mais novo, e ordena que ela seja morta na fogueira.
No interior da Fortaleza prepara-se o casamento de Manrico e Leonora, uma cerimónia que é interrompida pela notícia de que Açucena foi capturada pelos sitiantes e que irá ser queimada numa fogueira. Desesperado, Manrico desembainha a espada e parte em defesa daquela que ele julga ser a sua mãe.

4º. Acto

Evolui no interior da Torre do Castelo de Aliaferia onde Manrico e Açucena estão aprisionados numa das masmorras aguardando o momento de serem executados. Leonora vai procurar o Conde, determinada a salvar o Trovador, seja qual for o preço que tenha de pagar. É assim que diz aceitar casar com o Conde desde que ele mande libertar Manrico e Açucena. O Conde aceita a proposta e Leonora toma um veneno que trazia escondido. Só depois procura o Trovador para o informar de que, ele e a mãe podem partir em Liberdade. Mas o veneno já está a fazer efeito, e Leonora morre nos braços de Manrico. O Conde chega e ordena, de imediato, a execução do Trovador, obrigando a Cigana a assistir à sua morte de uma das janelas da Torre. É só depois da morte de Manrico que Açucena revela a verdadeira identidade do seu suposto filho, dizendo ao Conde de Luna que "ele acabou de matar o seu próprio irmão".


Personagens de O Trovador

Conde de Luna ……………………………….…….Barítono
Leonora, Condessa de Sargasto …………………..Soprano
Açucena, cigana …………………….……………...Soprano
Manrique, trovador ………………….……………..Tenor
Fernando, aio do Conde ………….……………….Baixo
Inês, aia de Leonor .……………….……………….Soprano
Ruiz, guerreiro ……………………………………...Tenor
Um cigano …………………………………………..Baixo
Um mensageiro …………………………………….Tenor

Soldados, ciganos, monjas, etc.

Do autor Giuseppe Verdi, … (excertos)

Nascido a 10 de Outubro de 1813, na aldeia de Roncole (Busseto / Parma), desde muito começou a demonstrar uma inequívoca propensão musical. Em criança, Verdi ficava boquiaberto a ouvir os músicos ambulantes e os cegos tocadores de sanfona (instrumento musical de corda friccionada), que vagueavam por estas zonas. Filho de família pobre, para a qual o dinheiro chegava à rasa para o seu sustento, valeu-lhe um músico retirado, chamado Biastrocchi que fazia de organista na freguesia que o iniciou na arte da música. Por essa altura, morreu nas redondezas um certo sacerdote em cujo espólio, figurava velha espineta (espécie de cravo, instrumento com teclado, idêntico ao cravo e ao piano), meio desmantelada, que o pai de Verdi comprou por dez reis de mel coado e que um tal Estêvão Cavaletti - primeiro admirador de Verdi – consertou de graça, em 1821, dando-se, unicamente, por satisfeito “com a boa disposição que o pequeno mostrava para aprender a tocar o instrumentos”. Três anos depois, Verdi já substituía o professor Biastrocchi, a tocar no órgão da igreja. Seu pai, no entanto, decidiu mandar José (Giuseppe) Verdi para a escola, em Busseto. A partir dessa data, todos os Domingos e dias santos, chovesse ou fizesse Sol de rachar, José palmilhava duas vezes o caminho para ir tocar o órgão da velha igreja paroquial de Roncole, sua terra natal.

O poema de Cammarano – o seu canto de cisne – era, propriamente, a transposição para acena lírica de um drama de António Garcia Gutierrez (183-1884), “El Trobador”, por via do qual seu autor conheceu a celebridade repentinamente e de simples soldado raso foi guindado a dramaturgo e poeta de eleição, tendo vindo a morrer Director da Biblioteca Nacional de Madrid, aos 71 anos, universalmente reputado, como um dos mais ilustres representantes do drama romântico do país vizinho. “El Trobador” foi a sua peça de estreia e foi representada em 1836, tinha Garcia Gutierrez 23 anos e não 17, como geralmente se diz, na esteira de Pougin.
O enredo da peça não é verosímil, mas o entrechocar de sentimentos postos em jogo é de um molde a obterem-se situações da maior intensidade dramática. Daí o êxito clamoroso que o dramalhão obteve, obrigando as nossas bisavós a encharcar lenços sobre lenços no enxugo das lágrimas que borbulhavam torrencialmente, acompanhadas por soluços de cortar o coração.

Texto extraído e adaptado de:
Colecção "Ópera", Volume 25, Direcção Mário de Sampayo Ribeiro, Editor Manuel B. Calarrão, Lisboa, Novembro de 1948, Preço 5$00.

DVD indicativo:


Trechos Musicais

1º. Acto

Maria Jose Siri (Leonora), Soprano, ária “Tacea la notte placida”


2º. Acto

Anvil Chorus, Coro da “Hungarian State Opera House


Dolora Zajick (Açucena),  Meio-Soprano, ária “Stride la vampa”


Piero Cappuccilli (Conde de Luna), Barítono, ária “Il balen del suo sorriso”


4º. Acto

Leontyne Price (Leonora), Soprano, ária “D’amor sull’ali rosee”

12 comentários:

  1. Porque razão que está é a última ópera que aqui apresentas, Ricardo?

    Embora, está seja uma das óperas mais importantes de Guiseppe Verdi, há ainda tantas para apresentar.

    A voz de Joan Sutherland é maravilhosa.

    Então, como está a decorrer o encontro em Braga? Bom tempo, boa comida e boas bebidas?

    Abraço​ de Düsseldorf 🎼🎼🎼

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    1. Teresa este trabalho para as óperas que aqui trouxe, deu-me imenso trabalho de colectar manualmente os texto nos pequenos livros sobre Ópera, que eram do meu Pai. Todas as aqui apresentadas já tinham sido publicadas no meu antigo Blogue "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades" que existiu. Por isso, limitei-me a voltar a publicar os textos que guardo todos em documentos de Word, aliás de tudo o que publico, e voltar a republicá-los aqui.
      Na realidade tenho muitos mais livros sobre grande parte das óperas clássicas conhecidas, mas não tenho actualmente tempo para, manualmente recolher os textos e aprofundar/enriquecer a publicação.
      Pode ser que volte a fazer mais um cojunto delas, mas por agora não.

      Tenho outras ideias a entrar na minha cabeça, como cinema e cinéfilo que fui, etc.

      Obrigado Teresa

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    2. Compreendo, RICARDO, mas tenho pena.

      Ainda se pode espreitar o blogue "Mudam-se o Tempos, Mudam-se as Vontades"?

      Saudações cordiais de uma amante de ópera.

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  2. O meu antigo blogue foi apagado depois de não conseguir adicioná-lo ao novo. A criação deste tem sido uma missão de "rebeldia" contra o pretenso "Acordo Ortográfico" levado a cabo porpretensos desconhecedores da Língua de Camões e de Pessoa que quando o fizeram estavam mais preocupados em questões comerciais do que fazer algo linguisticamente correcto na verdadeira e real evolução do Português. Esta é a minha opinião e não quero polemizar o assunto.
    Obrigado Teresa

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  3. É sempre um prazer ouvir uma ópera de Verdi.
    As vozes são excepcionais e gostei de ler o enredo, mais um acrescento à minha cultura musical.
    Obrigada pela partilha.

    Beijos Ricardo

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    1. Verdi é um dos melhores compositores da música clássica, principalmente de ópera.
      Obrigado Manuela

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  4. Olá!
    Gostei muito de ler a história!
    E, talvez por termos falado de ópera no almoço, no caminho para Trás-os-Montes fomos a ouvir a Caldas. A minha preferida é a "O Mio Bambino Caro". Adoro ouvir a interpretação dela! Ouço vezes sem conta...

    Também não tem para colocar o URL da SAPO... Por isso inventei ;)

    Lina

    http://golimix.blogs.sapo.pt/

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    1. Então foste a ouvir a Maria Callas para casa. Boa escolha no retorno a Trás-os-Montes.
      Obrigado Lina

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  5. :)))
    Caraças para o corretor do telemóvel!
    Como é lógico fui a ouvir a Callas! Não as Caldas! ;)

    Lina
    http://golimix.blogs.sapo.pt/

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    1. Dei pelo "gato". Caldas é mesmo outra louça ! :))
      Obrigado mais uma vez Lina.

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!