Raúl dirigia-se à leitaria do bairro,
com passo apressado. O café matinal tirado pela Rita era como um bálsamo para o
seu organismo. Um último salto, para ultrapassar a poça de água, em frente, à
“Lisbonense”. A chuva abatera-se sobre Lisboa, desde as 6 horas da manhã.
- Bom dia Rita ! Que raio de chuva !...
- Bom dia Sr. Raúl ! É Outono, é tempo
dela !
Rita a empregada, era assim uma
solteirona bonita, bem medida e que gostava de estar bem arranjada à frente da
loja do pai. Vestidos rodados e abaixo do joelho, e a cara sempre simplesmente
maquilhada, a condizer com a roupa que trazia vestida. Hoje, a roda era um
“bordeaux”, por isso os lábios tinham um tom avermelhado silvestre. Raúl
olhava-a com algum despudor e Rita deixava-se tocar pelo olhar dele.
- Sr. Raúl aqui tem o seu café !
- Obrigado Rita !
A porta da “Lisbonense” abria-se de
novo.
- Pai, pai !...
- Diz, filho !
- O Pedro ontem lá na escola, estava a
subir numa árvore e de repente, escorregou, como se tivesse posto o pé em cima de
uma casca de banana...
O João era um miúdo esperto e estava com
o seu grande amigo, o pai, Francisco. Todos os dias, normalmente, depois de
Raúl, eles eram os clientes seguintes. Francisco enviuvara e desde então, dedicara a sua
vida ao filho. Nunca pensara em casar de novo.
- Mas filho, o que é que o Pedro, o teu
amigo, ia fazer em cima da árvore?
- Pai, ia tentar apanhar um passarito.
Uma tarefa difícil, sem uma rede, não achas Pai?
- Sr. Francisco ! – interrompeu a Rita.
- Hoje é dia do seu filho levar o
hamburguer para a escola, não é ?
- É sim Rita ! Simples com uma folha de
alface e duas rodelas de tomate...
- E aquela carne saborosa, do talho do
senhor Cruz ! – atalhou o João sorrindo.