Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Lohengrin de Richard Wagner


Mais uma Ópera célebre, obrigatória conhecer.

A escolha erudita desta vez, recai sobre a ópera de Richard Wagner, “Lohengrin”.

Resumo da história desta Ópera

A acção decorre no século X, no Brabante, em Antuérpia e suas proximidades.

O Rei Henrique chega a Brabante onde reunirá todos os germânicos para expulsar os húngaros dos seus domínios. Ao chegar a Brabante na mira de pedir auxílio a Frederico de Telramund que é tido como a personificação de lealdade, este responde ao Rei, mas narra os acontecimentos a seu modo. O velho duque deixara dois filhos, Elsa e Godofredo, este é herdeiro da coroa. Entretanto Godofredo desaparece sem deixar rasto e a mulher de Frederico, Ortrudes, lança a suspeita de que Elsa está implicada no assassinato do irmão. Elsa alega a sua inocência e diz que sonhou com um cavaleiro, revestido de coruscante armadura, que o Céu mandou para a proteger. Ele será o seu defensor. Frederico apoiado por Ortudes continua a acusá-la da morte do irmão, e diz que defronta qualquer um que a queira apoiar e defender. Elsa ajoelha perante o Rei. As trombetas tocam para anunciar o defensor de Elsa, ninguém aparece. Esta acredita e pede ao Rei para tocar de novo as trombetas porque o cavaleiro, seu defensor, está longe e poderá não ter ouvido. O Rei ordena que se façam ouvir de novo as trombetas. Ao longe aparece um pequeno bote puxado por um cisne. De pé no bote um cavaleiro vestido de uma armadura de prata. O bote chega ao seu destino e o cavaleiro apeia-se do mesmo, despede-se do cisne e manda-o de volta. O animal obedece e faz rumo para o lugar de onde viera. Apresenta-se a Elsa e pergunta se ela lhe permite que defenda a sua honra ao que Elsa acede. O cavaleiro protector luta com Frederico de Telramund e derrota-o, poupando-lhe, no entanto, a vida.
Frederico de Telramund sente-se desonrado e anseia por uma arma, que não tem, para punir sua mulher Ortrudes que o incitou, estupidamente, contra Elsa. Foi ela que urdira uma trama de seu próprio consórcio e o induzira a renunciar à mão de Elsa, visto que esperava como sendo a última vergôntea dos Ratbold, não tardar a ser chamada a reinar em Brabante.
Ortrudes por seu lado culpa Frederico de não conseguir vencer o pretenso protegido de Deus e ter sido derrotado. Ela consegue influenciar de novo Telramund a ajudá-la a continuar os seus desígnios tenebrosos contra Elsa. Ortrudes vai conseguir o perdão e a protecção de Elsa. O casamento de Elsa está próximo e Ortrudes e Frederico tentam de novo, a primeira a conseguir dominar o cavaleiro e o segundo a afrontar o Rei. Ambos são mal sucedidos. Ortrudes e Frederico de Telramund são ambos expulsos pelo cavaleiro.
O casamento tem lugar, mas Elsa instigada, secretamente, por Ortrudes e Frederico, faz perguntas incessantes ao seu noivo sobre a sua ascendência. Este diz para ela confiar nele e ele diz que a sua origem é mais elevada que a do próprio Rei e que a região de onde veio é divinal e esplendorosa. A sua curiosidade redobra e por esta altura entram pelos aposentos onde se encontravam Frederico de Telramund, acompanhado de quatro nobres descontentes, para tirar meças com o cavaleiro. Elsa pega na espada, dá-a ao seu consorte e este caindo sobre o traidor Frederico, mata-o fulminantemente, à primeira estocada.
O cadáver vai ser levado à presença real. O protector de Brabante, o cavaleiro, volta a vestir a sua armadura de prata. Tudo se vai esclarecer. O cavaleiro é nem mais nem menos, que um dos guardas do Santo-Gral. Seu Pai, Parcifal, é o chefe, o grão-mestre dos cavaleiros, onde ele se enquadra, e chama-se Lohengrin. Este tem de partir, porque o Gral não tolera maior ausência. Despede-se de Elsa. Ortrudes dirige-se a Elsa para dar mostras de alegria satânica e lhe revelar que o cisne misterioso que vai conduzir o seu querido herói, é o seu irmão Godofredo, que ela por suas malas-artes, assim encantou. Um pomba branca, a pomba do Santo-Gral plana sobre a barquinha que vai levar de regresso Lohengrin. O cavaleiro tira a cadeia que prende o cisne ao batel. Este mergulha nas águas e reaparece Godofredo. Elsa contente, abraça-se ao irmão, mas desmaia por ver seu marido partir, o cavaleiro Lohengrin.
Ortrudes ao ver os seus sortilégios frustrados, roja-se pelo chão no auge do despeito e estoira de raiva, enquanto a nobreza, feliz pela libertação de seu jovem suserano, aclama entusiasticamente, Godofredo, novo duque de Brabante.

Personagens de Lohengrin

O Rei Henrique I, da Alemanha …………………………….Tenor
Elsa de Brabante, filha e herdeira
            do Duque de Brabante ……………….………………Soprano
Lohengrin, cavaleiro do Santo-Gral ………………………...Tenor   
Ortrudes, filha de Ratbold, rei dos Frisões e herdeira
            da Coroa do Brabante, na falta de Elsa……………..Meio-Soprano
Frederico de Telramund, conde brabanção, casado
            com Ortrudes …………………………………………..Barítono
Um Arauto ………………………………………………………………….. Baixo

Nobres e cavaleiros brabanções, turíngios e saxões, damas do séquito de Elsa, pajens, trombeteiros, soldados, povo flamengo, etc.

Do autor Richard Wagner, … (excertos)

Guilherme Ricardo Wagner (1813-1883) nas céu em Lípsia a 22 de Maio de 1813 e ficou sem pai aos seis meses. Porque sua mãe tornou a casar foi residir para Dresde (Dresden), onde cresceu, começou seus estudos e não tardou em manifestar forte propensão poética. Só depois de sua mãe ter voltado a morar na sua terra natal entrou de mostrar interesse pela música e aprendeu a tocar rabeca e piano, respectivamente, com Robert Sipp (1806-1899) e o organista Amadeu Müller. Embrenhou-se, depois, nos segredos da composição guiado por Cristiano Weinlig (1780-1842), grande contrapontista, que ainda aprendera, em Bolonha, com o famigerado Padre Estalinau Mattei (1750-1825).
Nenhuma outra ópera de Wagner alcançou tanta popularidade e logrou aceitação universal como esta, o que se deveu ao facto de não ser ainda gizada no colete de forças que é, em última análise, a concepção wagneriana do drama lírico.
Em Lohengrin a música ainda tem independência, ainda não está de todo acorrentada à trama densa urdida com os temazinhos (leit-motiven – leia: laite-motífene); ainda há melodias independentes e um sopro de idealismo que encontra eco em nós e nos enfeitiça o coração. Em Lohengrin há também uma outra condição que muito valoriza a partitura: a magna importância dos coros.
O poema (como não podia deixar de ser) é do próprio Wagner, e, como é peculiar do autor, as melhores páginas musicais correspondem às melhores páginas do drama.
O assunto é o de uma célebre lenda teutónica e foi tratado por Wolfram de Eschenbach, o famoso poeta da Idade Média (falecido em 1220), em seu poema Parcifal.
Lohengrin (ou Loherangrin) quer dizer, propriamente: o Loreno (natural de Lorena) Gerin (ler: Guerin).
Ricard Wagner faleceu repentinamente em Veneza a 13 de Fevereiro de 1883 e foi enterrado em Bayreuth (lê-se: Bairóit), nos jardins de sua residência, no dia 18 desse mesmo mês.
Quase um mê depois – a 14 de Março – é que Lisboa ouviu pela primeira vez o Lohengrin, cantado em São Carlos, sob a direcção do maestro Dalmau.

Muito do texto aqui escrito, foi por mim adaptado, e encontra-se em:

Colecção "Ópera", Volume 5, Direcção Mário de Sampayo Ribeiro, Editor Manuel B. Calarrão, Lisboa, Junho de 1946, Preço 4$00.
  
DVD indicativo:


Trechos Musicais

Mario del Monaco (Lohengrin), tenor, ária “Da voi lontan”


Emese Pesti (Elsa), soprano, ária “Einsam in trüben Tagen”


Marcha Nupcial, “Concierto Voces para la Paz 2005”, no Teatro Monumental, em Madrid, 8 de Maio de 2005.


Prelúdio do 3º. Acto

4 comentários:

  1. Sempre gostei de ouvir Wagner, embora não conhecesse estes temas, só a marcha nupcial que nunca imaginei que fosse dele.
    Uma especial atenção para a soprano, voz linda, recordei os bons tempos em que também eu fui soprano nos grupos corais onde participei ao longo da minha vida estudantil, agora resta-me bater palmas pela tua partilha

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    1. Wagner é um compositor menos conhecido, mas a sua música é vigorosa e deixa-nos com mais força. Os cantores destas óperas wagnerianas têm normalmente vozes maravilhosas e robustas.
      Obrigado Manuela

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!