Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

domingo, 2 de junho de 2013

Histórias de Ontem (I) - Trabalho em Santarém

Obrigatório são duas homenagens a duas pessoas que trabalharam comigo no meu anterior emprego. Falo dos saudosos, Paula, nossa assistente de agendamentos a clientes, e o colega, amigo e técnico, Mário. Deles a tristeza que me assola, quando neles penso e os recordo. Estejam onde estiverem, um abraço de saudade para os dois.           
               
Esta estória teve lugar aqui há uns anos, e se a memória e os meus apontamentos não falharem, terá acontecido por volta de Fevereiro de 1998, quando o nosso maior cliente, estava mais uma vez, a alterar o “hardware/software” dos seus sítios.

Um dos nossos carros era diferente das carrinhas Renault habituais, era um Renault 19 comercial, a “diesel”, comprado pelo nosso chefe, para a assistência técnica.

Como é óbvio, todos os técnicos lhe queriam pôr as mãos em cima, e alguns estrear o cinzeiro e deixá-lo cheio de beatas, como era hábito há anos com os técnicos fumadores, e nas primieras viaturas partilhadas. Era um cheiro nauseabundo que se espalhava na viatura e impregnava nos estofos. Para mim que tinha deixado de fumar em 1985, era um suplício aquele odor. Felizmente, na altura, já tinha o meu Clio Bebop, onde era proibido fumar. E lá ia eu, com dois servidores que não cabiam no porta-bagagens e iam deitados no banco traseiro, presos com os cintos de segurança, a caminho de Santarém. Comigo ia o “Carapau”. O Clio esfolava-se atrás do 19 e pouco e pouco, este último, foi-se afastando, mesmo pesado que ia, com bastante equipamento.

Este quarteto ia, com o seu esforço e dedicação habituais, mais uma vez trabalhar até mais tarde, para deixar o cliente e a empresa satisfeitos.

Descida final e curva larga à esquerda, na A1, e subida para a saída da portagem em Santarém. O 19 tínhamos deixado de o ver há algum tempo. Esqueci-me de dizer que o Renault 19, era conduzido pelo “Tira Picos” acompanhado do “Verylight”.

Saímos em Santarém e dirigimo-nos para o local do cliente em questão, pessoa já nossa conhecida. A nossa primiera surpresa for não ter vistos os nossos colegas, o que muito estranhámos, porque, supostamente, teriam chegado à nossa frente e com grande avanço. Mas não, não estavam. O segurança, tomou nota dos nossos nomes e identificações, já que a tarefa iria durar até tarde, e somente o segurança acabaria por ficar connosco, dentro do edifício.

Nessa altura não tínhamos telemóveis, tínhamos “pagers” e lá vai de enviar uma mensagem para o “Tira Picos” para saber o que se passava. Meia hora depois mais outra mensagem e nada de telefonema. Passaram uns bons 45 minutos e o telefone do Cliente tocou. O gerente atendeu e passou-me o auscultador.      
             
- Estou ! Então o que é que vos aconteceu ?       
       
Do outro lado ouvi a voz do “Tira Picos”          
              
- Enganámo-nos e só saímos em Fátima ! Daqui a pouco estamos ai.        
                
- Despachem-se ! Disse eu.       
                
Resumindo e concluindo, a conversa futebolística entre o “Tira Picos” e o “Verylight” fez com que a distracção os levasse somente a sair da auto-estrada, duas saídas depois de Santarém, imaginem. Risota geral !        
           
Houve alguém, técnico, que enviou um mensagem para os “pagers” de todos os técnicos informando que no fim-de-semana iria ser dado um programa de orientação em auto-estrada, nomeadamente na A1.

3 comentários:


  1. hehehehe

    "Houve alguém"... dizes tu!... Pois... já estou a ver quem foi o técnico que fez a graçola!!! :D
    Vocês deviam ser todos "lindos pra assar"... mas a sensação que me fica é que vocês deviam gostar mesmo do vosso trabalho e que tinham um ambiente de camaradagem fantástico!


    Beijinhos com GPS (para não se perder no caminho)
    (^^)

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    1. Olha a história "Houve alguém" é triste, neste momento. Quem mandou essa mensagem foi um colega que faleceu de mota aqui há uns meses, num desastre na marginal !
      http://opactoportugues.blogspot.fr/2012/05/um-abraco-de-despedida.html
      Tínhamos um ambiente muito grande cumplicidade, quando um dizia "Mata !", havia sempre alguém que dizia "Esfola !).
      Obrigado Afrodite

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    2. Não há desculpas a pedir, sobre a morte do meu colega. Tu, obviamente, não sabias !!!!

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!