A escolha erudita desta vez, a penúltima, recai sobre a ópera de Giuseppe Verdi, “Rigoleto”.
Resumo da história desta Ópera
1º. Acto
Salão do Palácio do Duque
A acção decorre em Mântua e arredores, no século XVI.
No palácio do Duque de Mântua há um baile. O Duque conversa alegremente sobre suas aventuras e conquistas amorosas com o seu confidente Borsa. Fala, em especial, da sua mais recente aventura. Vai para três meses que uma bela jovem é observada por ele. Mas, até aquele momento, a oportunidade que teve de vê-la foi na igreja. Ela desconhece quem ele é. O Duque conta que ela mora numa pequena vila e um homem desconhecido a visita todas as noites. Entre os convidados estão o Conde e a Condessa de Ceprano. O Duque encanta-se com a beleza da Condessa e canta sobre os seus amores momentâneos. De um lado, o Duque faz reverências à beleza da Condessa, do outro, o Conde, seu marido, é ridicularizado por Rigoleto, que acaba de entrar. Em seguida entra Marullo, que reúne outros cortesãos para contar um grande segredo. O corcunda Rigoleto, o bobo da corte, tem uma amante ! A gargalhada é geral entre todos os presentes. O Duque e Rigoleto retornam. Na presença de Ceprano, Rigoleto insinua maneiras pelas quais o Duque poderia afastar o Conde e, assim, seduzir a Condessa Ceprano, sua esposa. Rigoleto, quando chega a ponto de sugerir que o Conde fosse executado, o irado Ceprano, irrita-se num impulso de desafiá-lo para um duelo. Outros convidados demonstram repúdio e desprezo pelo repugnante e debochado Rigoleto. Nesse momento, o Duque, mostra-se irritado. De repente, surge o Conde de Monterone, que acusa energicamente o Duque de Mântua de ter desonrado sua filha. Rigoleto, numa atitude desprezível, zomba do infeliz homem, imitando Monterone. Este jura vingança e amaldiçoa Rigoleto pela atitude indigna, ao rir da mágoa de um pai. Rigoleto, nesse momento, mostra-se perturbado e com medo. Todos ficam irritados com Monterone, por ter acabado com a festa.
2º. Acto
É noite. Beco escuro entre a casa de Ceprano e Rigoleto.
Rigoleto recorda a maldição de Monterone com uma sensação estranha, talvez um mau pressentimento. Aproxima-se Sparafucile, oferecendo os seus serviços, como assassino profissional. As suas vítimas são atraídas a sua casa, pela irmã, Madalena. Rigoleto recusa tais serviços, mas aquele encontro fá-lo reflectir. Só, Rigoleto recorda a sua vida, as humilhações pelas quais já passou por ser aleijado e bobo da corte. Somente o amor de sua filha, Gilda, o torna mais terno e mais humano. Encontro de Gilda e Rigoleto. Rigoleto está perdido em pensamentos. Ela pede que o pai conte sobre o seu passado, deseja saber o nome da sua mãe. Rigoleto fala das suas desgraças e do amor perdido. Gilda é a única alegria que tem. Energicamente, diz para Gilda não sair jamais de casa sózinha e reforça o pedido à governanta. Pede a Giovanna que esteja sempre atenta à filha. Rigoleto sai e, sem ser visto, o Duque chega. Suborna Giovanna para deixá-lo entrar. Gilda encontra-se apaixonada pelo Duque, que é belo e jovem e que ela acredita, ingenuamente, ser um estudante. Gilda nunca contou ao pai sobre esta paixão. Nesse encontro, o Duque faz-lhe juras de amor. Gilda está encantada e indefesa pelo amor. Ouvem-se os passos de Ceprano e dos outros.
O Duque, que receia ser descoberto, pensa em fugir. No escuro, Ceprano, Marullo e outros cortesãos encontram-se com o objectivo de raptar a amante de Rigoleto. Rigoleto chega e pensa que quem está sendo levada é a Condessa de Ceprano, com os olhos vendados. Ele participa da acção ajudando a segurar a escada. Quando partem, Rigoleto tira a venda dos olhos. Tarde demais. Lembra angustiado da maldição de Monterone.
3º. Acto
Palácio do Duque
O acto começa com o Duque desolado por não ter ainda tido notícias do seu anjo. O Duque descobriu que Gilda foi raptada. Entra em desespero; deseja encontrá-la para confortá-la. Os cortesãos, com sabor de vitória, contam como prenderam a amante do corcunda. Rigoleto aparece demonstrando indiferença, mas no seu íntimo reina um enorme desespero para encontrar sua filha. Sem querer, com a chegada de um pajem, ele descobre que o Duque está com Gilda. Totalmente fora de si, Rigoleto tenta forçar seu caminho até ao Duque. Ele é afastado e, nesse momento, roga para que ela seja liberta. Gilda, em lágrimas, é levada até junto do pai. Ela confessa sua ligação amorosa com o Duque e que lhe havia tirado a honra. Monterone, ao ser conduzido à prisão, respinga contra a impunidade do Duque. Entretanto, Rigoleto jura que haverá sim, uma vingança. Não existem outros pensamentos para ele, mesmo com as súplicas de Gilda, pois seu único motivo a partir de agora é vingar-se.
4º. Acto
Uma hospedaria afastada da cidade. É noite.
Rigoleto, que havia pago a Sparafucile para assassinar o Duque, vai com Gilda até ao local onde poderiam observar tudo que se passa dentro da casa. Gilda, ao longe, vê o Duque, disfarçado, indo ao encontro de mais uma de suas aventuras amorosas. O Duque canta, cinicamente, a canção que expressa seu desprezo pelas mulheres. Enquanto isso, Rigoleto e Sparafucile planeiam o seu assassinato. Madalena é chamada e namora com o Duque. Gilda não tem como evitar a cena do Duque com Madalena, pois é forçada a ver a cena. O Duque diverte-se com Madalena, cortejando-a. Gilda amargura-se com as sombrias ameaças de Rigoleto. Madalena, com pena do jovem, tenta convencer o irmão, Sparafucile, a matar outra pessoa em vez do Duque de Mântua. Rigoleto vai-se embora e pede para que a filha saia da cidade. Gilda retorna, pois fica sabendo dos planos para o Duque e resolve sacrificar-se pelo amado. Ela vai ao encontro de Sparafucile, que se esconde atrás de uma porta aguardando com uma faca o momento para executar o assassinato. A porta abre-se. Tudo está escuro. A vítima está escondida dentro de um saco. Muito feliz por estar concretizando sua vingança, Rigoleto está ansioso para atirar o saco ao rio, quando, para seu horror, ouve a voz do Duque, ao longe, cantarolando. Rigoleto abre o saco e vê a sua filha agonizando. Ela implora-lhe o perdão e morre. Rigoleto está transtornado, infeliz. A maldição de Monterone foi cumprida.
Personagens de Rigoleto
Duque de Mântua ………………………………………….Tenor
Rigoleto (seu bobo) ………………………………………. Barítono
Gilda (Filha de Rigoleto) ……………………………….... Soprano
Sparafucile (Espadachim) ……………………………….. Baixo
Madalena (Irmã de Sparafucile) ………………………… Meio-Soprano
Joana (Criada de Gilda) …………………………………. Meio-Soprano
Conde Monterone ………………………………………….Barítono
Conde de Ceprano ………………………………………...Baixo
Condessa de Ceprano …..………………………………...Meio-Soprano
Marullo ………………………………………………………Barítono
Borsa (confidente do Duque) ……………………………..Tenor
Do autor Giuseppe Verdi, … (excertos)
Nascido a 10 de Outubro de 1813, na aldeia de Roncole (Busseto / Parma), desde muito começou a demonstrar uma inequívoca propensão musical. Em criança, Verdi ficava boquiaberto a ouvir os músicos ambulantes e os cegos tocadores de sanfona (instrumento musical de corda friccionada), que vagueavam por estas zonas. Filho de família pobre, para a qual o dinheiro chegava à rasa para o seu sustento, valeu-lhe um músico retirado, chamado Biastrocchi que fazia de organista na freguesia que o iniciou na arte da música. Por essa altura, morreu nas redondezas um certo sacerdote em cujo espólio, figurava velha espineta (espécie de cravo, instrumento com teclado, idêntico ao cravo e ao piano), meio desmantelada, que o pai de Verdi comprou por dez reis de mel coado e que um tal Estêvão Cavaletti - primeiro admirador de Verdi – consertou de graça, em 1821, dando-se, unicamente, por satisfeito “com a boa disposição que o pequeno mostrava para aprender a tocar o instrumentos”. Três anos depois, Verdi já substituía o professor Biastrocchi, a tocar no órgão da igreja. Seu pai, no entanto, decidiu mandar José (Giuseppe) Verdi para a escola, em Busseto. A partir dessa data, todos os Domingos e dias santos, chovesse ou fizesse Sol de rachar, José palmilhava duas vezes o caminho para ir tocar o órgão da velha igreja paroquial de Roncole, sua terra natal.
…
Como em todos os compositores, mas especialmente em Verdi, que manteve sempre uma independência de técnica, as características de cada obra estão integradas no drama que descrevem; obedecem à sua forma própria, ao estado de alma, reflexo de cada drama musicado, etc. Assim, se encontramos na “Traviata”, a partitura que nos encanta pela emoção e arte de todas as suas páginas e se o drama intenso de Alexandre Dumas nos sensibiliza; no “Trovador”, as forças rítmicas, a violência e a agressividade do drama espanhol; na “Aida” a opulência dos motivos das civilizações primitivas; vamos encontrar no “Rigoleto” a pura harmonia italiana. Nesta obra, mais do que em qualquer outra, a diferença de classes, de educação, de sentimentos, dos que interpretam o drama, é tão notória tão profunda, tão diversa, que a música no seu conjunto, nos descreve as suas sensibilidades tão opostas, numa larga escala…
Texto extraído e adaptado de:
Colecção "Ópera", Volume 1, Direcção Mário de Sampayo Ribeiro, Editor Manuel B. Calarrão, Lisboa, “meados” de 1946, Preço 3$50.
DVD indicativo:
Plácido Domingo, Illeana Cotrubas, Cornell MacNeil, Isola Jones e Justino Diaz. Orquestra e Coros do Metropolitan de Nova Iorque, dirigida por James Levine, para a Editora Deustche Grammophone.
Trechos Musicais:
1º. Acto
Piotr Beczala (Duque de Mântua), Tenor, ária “Questa o quella“
Fabian Veloz (Rigoleto), Barítono, ária “Pari siamo!”
Eglise Gutierrez (Gilda), Soprano, ária “Caro Nome“
3º. Acto
Ingvar Wixell (Rigoleto), Barítono, ária “Cortigiani vil razza dannata”
4º. Acto
Mario Lanza (Sparafucile), Tenor, ária “La donne é mobile”