Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Madame Butterfly de Giacommo Puccini


Mais uma célebre Ópera, obrigatória conhecer.

A escolha erudita desta vez, recai sobre “Madame Butterfly”.

Resumo da história desta Ópera

1º. Acto
A acção decorre em Nagasáqui, por volta de 1870. O Japão é um país isolado do resto do Mundo. Um Presidente americano envia uma expedição de reconhecimento a sua Majestade Imperial, com o intuito de estabelecer laços de amizade com o Império do Sol Nascente. Nas décadas seguintes vários oficiais da Marinha Americana visitaram o Japão contraindo matrimónio (levianamente) com jovens japonesas. Por isso, a história de Cho-Cho-San (Butterfly, Borboleta em Japonês) baseia-se em factos reais.
Benjamin Franklin Pinkerton, oficial da marinha americana em Nagasáqui, acaba de fazer um excelente negócio, comprando não só, uma casa na colina, com vista para o mar, mas também leva de presente uma gueixa, Cho-Cho-San, uma rapariga de 15 anos que irá morar com ele.
Cho-Cho-San ama Pinkerton, mas este pensa, unicamente, no dia em que se irá casar com uma esposa americana. Na família de Butterfly (Cho-Cho-San), o tio, um monge budista opõe-se a este casamento de conveniência entre o oficial americano e ela. Ela própria se converte à religião de Pinkerton, abdicando aos seus antepassados. Na cerimónia do casamento, o tio, ao saber da renúncia da jovem às suas tradições, lança uma maldição sobre o casamento.

2º. Acto
Pinkerton regressa à América, prometendo um dia voltar. Butterfly (Cho-Cho-San) espera há três anos, por ele, e chora. Suzuki, a sua criada, reza diante da imagem de Buda. O Cônsul americano entra na casa de Pinkerton e traz-lhe notícias más. Entretanto, Goro chega com um candidato à mão de Butterfly, o príncipe Yamadori, um homem nobre e rico que ama Cho-Cho-San perdidamente. Mas apesar do seu amor verdadeiro por ela, Yamadori é repelido por Butterfly afirmando esta que está casada com Pinkerton. Sharpless não consegue dar-lhe a má notícia do casamento de Pinkerton com uma americana. Aconselha Butterfly a aceitar o príncipe Yamadori, mas esta mostra o filho que ela tem de Pinkerton, filho que ambos desconheciam. Sharpless diz que vai escrever a Pinkerton a contar-lhe do filho que tem. Entretanto, ouve-se um tiro de canhão no Porto. É o navio de Pinkerton que regressa. Suzuki e Cho-Cho-San apressam-se a decorar a casa com flores.

3º. Acto
Sem dormir toda a noite, apesar dos conselhos de Suzuki, Cho-Cho-San acaba por adormecer já quase de manhã, com o seu filho nos braços. Pouco antes de amanhecer batem à porta. É Pinkerton e Sharpless. O jovem oficial, marido de Butterfly, cai em remorso ao ver a casa cheia de flores e ao ouvir da boca de Suzuki o tempo que Butterfly esperou por ele. Suzuki repara numa moça que se encontra no jardim. Ela é Kate, a mulher americana de Pinkerton. Sharpless não aguenta mais a farsa e conta tudo a Suzuki. Pinkerton não tem coragem para enfrentar Butterfly e foge da casa.
Butterfly acorda e encontra Sharpless, Suzuki e Kate na sala. Suzuki chora. Cho-Cho-San apercebe-se de tudo o que se está a passar. Kate pede-lhe que lhe entregue o filho de Pinkerton, ao que Butterfly aceita o pretendido. Sharpless e Kate retiram-se. Butterfly pede a Suzuki para ir buscar a criança. Retira de um baú um punhal com o qual o seu pai havia cometido “seppuku”, ritual também conhecido por “haraquiri”. Lê a inscrição no punhal, “Com honra morre aquele que não mais com honra viver pode". Suzuki traz-lhe a criança. Esta pede à criada que se retire. De seguida, beija o seu filho ternamente, dizendo-lhe que nunca se esqueça da mãe japonesa, dá-lhe uns brinquedos para as mãos, coloca uma venda nos olhos da criança e enfia o punhal no ventre, consumindo o ritual “haraquiri”.

Personagens de Madame Butterfly

Madame Butterfly (Cho–Cho-San) ……………………Soprano
Suzúki, sua criada ………………………………………Meio-Soprano
Kate Pinkerton …………………………………………..Meio-Soprano
Benjamin Franklin Pinkerton, tenente da Marinha
norte-americana ………………………………………...Tenor
Sharpless, cônsul dos Estados Unidos em
Nagasáqui ………………………………………………..Barítono
Goro, alcaiote …………………………………………… Tenor
Príncipe Yamadori ……………………………………… Tenor
O Bonzo, tio de Cho-Cho-San …………………………Barítono
Yakusidé, tio de Cho-Cho-San …..…………………….Barítono
O Comissário Imperial …………………………………..Barítono
O Oficial do Registo ……………………………………..Baixo
A Mãe de Cho-Cho-San ………………………………..Contralto
A Tia ………………………………………………………Meio-Soprano
A Prima .……………………………………................... Soprano

Parentes, Amigas de Cho-Cho-San, Criados

Do autor Giacommo Puccini, … (excertos)

Ao nome de baptismo de Giacomo Puccini correspondem vários na nossa língua; tanto poderá ser Jácome, como Diogo, Tiago ou Jaime. Por isso apenas há uma forma de vencer o embaraço e não errar a tradução. Essa é… não o traduzir.
Giacomo (lê-se: Djácomo) Puccini (lê-se: Putxini), última vergôntea (descendente) de autêntica dinastia de músicos notáveis, e todos naturais de Lucca, nasceu a 22 de Dezembro de 1858. Filho, neto e bisneto de três compositores de grande envergadura na época, respectivamente, seu pai Miguel Puccini (1813-1864), seu avô António Puccini (1771-1815) e seu bisavô Giacomo Puccini (1712-1831). Estudou no Instituto Musical Pacini, em Lucca, com Carlos Angeloni (1834-1901). Mais tarde, vai estudar para Nápoles, para o Conservatório, graças à Rainha Margarida, mãe de Victor Manuel III. Primeiramente é Amílcar Ponchielli (1834-1887) o seu professor e mais tarde após a sua morte, é António Bazzini (1818-1897) que o ensina.
As suas mais célebres obras do género lírico, são:

Le Villi; Manon Lescaut; La Bohême; Tosca; e Madame Butterfly (que foi representada pela primeira vez a 17 de Fevereiro de 1904, no Teatro Scala de Milão, dirigida por Cleofonte Campanini (1860-1919) e desempenhada por Rosina Storchio (Cho-Cho-San, Madame Butterfly), pelo tenor João Zenatello (Pinkerton) e pelo barítono José de Luca (Sharpless). O acolhimento foi hostil de modo que a nova ópera caiu estrondosamente).

Giacomo Puccini morre em 29 de Novembro de 1924, com 65 anos de idade.

Texto extraído e adaptado de:
Colecção "Ópera", Volume 19, Direcção Mário de Sampayo Ribeiro, Editor Manuel B. Calarrão, Lisboa, Fevereiro de 1948, Preço 5$00.

DVD indicativo:


Trechos Musicais

1º. Acto

"Dovunque al mondo" Brian Cheney, Pinkerton (tenor) e Mark Owen Davis, Sharpless (barítono).



" Vogliatemi bene " (incompleto), com Placido Domingo, Pinkerton (tenor) e Mirella Freni (soprano).


2º. Acto

“Un bel di vedremo”, com Angela Georghiu, Madame Butterfly (soprano).


3º. Acto

“Adio Fiorito Asil”, com Placido Domingo, Pinkerton (tenor)



“Final”, com Donata D'Annunzio Lombardi, Madame Butterfly (soprano).

17 comentários:

  1. Adoro, " aqui a Callas que quanto a mim também é sublime!
    Bjs

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    1. A Callas era um excelente cantora, sem sombra de dúvida, mas há muitos mais !
      Obrigado Papoila

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    1. As óperas do Puccini são da época do Romantimo, época essa que atravessou a Europa em todas as artes no século XIX.
      Obrigado M.
      Cada vez que escrevo M. lembro-me sempre da M dos filmes do James Bond ! :))

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  3. Ah ! Esta já vi/ouvi ao vivo há alguns anos!! Em Toronto.

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  4. Já a vi ao vivo duas vezes.
    E arrepio-me sempre!
    Aquele abraço, bfds

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  5. Uma das óperas que mais me emocionou e cujos intérpretes vocais, são sublimes.
    Lembro-me de trautear a música do 2º acto, isto quando tinha uma voz razoável.
    Gostei de relembrar.
    Obrigada pela partilha.

    Bom fim de semana Ricardo

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    1. É um ópera fantástica para a época. Não te sabia cantora de árias de ópera ! :)
      Obrigado Manuela

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  6. Embora não seja apreciadora da música de Giacomo Puccini e o tema desta ópera não me agrade mesmo nada pela sua antiguidade, vi está ópera várias vezes; a última vez em Weimar.

    Ricardo, Helau!

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    1. O tema e a música de Manon Lescaut são mais do meu agrado.

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    2. Puccini é um excelente compositor romântico, e a "Madame Butterfly" é uma das sua melhores óperas.
      Iremos ter mais uma ópera por aqui e a rúbrica termnina, por agora.
      Obrigado Teresa

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  7. Estas,... mesmo intemporais ! Serão para todos os tempos, realmente !
    Gostei muito da Mirella Freni !

    Abraço, Ricardo

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    1. Serão intemporais, como dizes e muito bem Rui !
      Excelente Cantora !
      Obrigado e Abraço Rui

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!