Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O Elixir de Amor de Caetano Donizetti


Mais uma célebre Ópera, obrigatória conhecer.

A escolha erudita desta vez recai, sobre a ópera de Caetano Donizetti, “O Elixir de Amor”.

Resumo da história desta Ópera

A acção decorre numa aldeia vasconça, nas cercanias de Baiona.

Este é o caso de Nemorino, um rapaz pobre e tímido, apaixonado por Adina, uma jovem de posição, "coquette", ilustrada e caprichosa, a quem um dia ele ouve ler a história de Tristão e Isolda e do seu filtro mágico. Quando chega à aldeia, Dulcamara, charlatão ambulante que, com os seus modos teatrais, diz ser médico e tudo e a todos vende, Nemorino, o ingénuo, compra-lhe um “elixir de amor” que, afinal, nada mais é do que uma garrafa de bom vinho.
Um tanto toldado dá-se conta de que, subitamente todas as raparigas da aldeia o requisitam, mas desconhece ser apenas por que irá receber a herança de um seu tio que acaba de falecer. Por sua vez Adina, enciumada, e perplexa perante o desplante das novas atitudes do pretendente, agasta-se e diz querer apressar o seu casamento com Belcore, sargento fanfarrão empenachado com quem tem um compromisso. A ideia é vingar-se de Nemorino, mas na verdade Adina está seduzida… e tudo dá grandes voltas, como na vida, onde, por vezes, correm furtivas lágrimas… Belcore parte para a guerra com os seus recrutas desarrimados e até convém, a orquestra suspira e Dulcamara diverte-se, come e bebe. Todos festejam, o enlace.

Personagens de O Elixir de Amor

Adina, rendeira rica e estouvada ………………….. Soprano
Nemorino, lavrador timorato e apaixonado por
            Adina ………………………………………… Tenor
Belcore, sargento da guarnição na aldeia …………Barítono
Dr. Dulcamara, charlatão …………………………….Baixo “Buffo” (1)
Gianetta, aldeã ………………………………………..Soprano

Aldeãos e aldeãs soldados e músicos do regimento

(1) – Baixo “Buffo” é um baixo que assume um papel cómico.

Do autor Caetano Donizetti, … (excertos)

Nascido em Bérgamo a 29 de Novembro de 1797, Caetano Donizetti, pode dizer-se que desde o berço deu mostras inequívocas de forte propensão musical e seu pai, não obstante viver com grandes dificuldades, não quis contrariar-lhe a vocação e matriculou-o no Liceu Musical da sua cidade natal, onde estudou canto com Francisco Salari (1751-1828), piano com António Gonzales (1764-1830) e harmonia e composição, com o célebre compositor bávaro João Simão Mayr (1763-1845). Aos dezanove anos, foi recomendado por este último, a sua ida a Bolonha dar os últimos retoques no estudo do contraponto com o Padre Mattei (1750-1825).
Regressado a Bérgamo, quis dedicar-se à composição teatral, mas o pai, desta feita, não gostou dos seus desígnios, pois, desejoso de aumentar o seu magro orçamento familiar, preferia que ele se consagrasse ao ensino. Na mira de pôr cobro às querelas constantes, Donizetti resolveu assentar praça, seguro de que poderia empregar as horas de lazer na satisfação dos seus desejos. Posto em prática o seu plano, foi colocado em um regimento da guarnição de Veneza e, a 14 de Novembro de 1818, tentou fortuna com a sua primeira ópera, “Henrique de Borgonha”, e foi bem sucedido.
Donizetti produziu uma série de partituras que lhe asseguraram a imortalidade e suscitaram os maiores êxitos em toda a Europa. No número delas se conta com o “melodrama” O Elixir de Amor, composto sobre um libreto do insigne Felix Romani (1788-1865) e representado pela primeira vez, com enorme êxito, em Milão, no Teatro “della Canobbiana” a 12 de Maio de 1832. Em Lisboa, foi a 26 de Outubro de 1840, em benefício do camaroteiro de São Carlos, que se ouviu pela primeira vez esta ópera.
Caetano Donizetti falece em 1848.

Texto extraído e adaptado de:
Colecção "Ópera", Volume 20, Direcção Mário de Sampayo Ribeiro, Editor Manuel B. Calarrão, Lisboa, Março de 1948, Preço 5$00.

DVD indicativo: Em www.amazon.fr a ópera “Elixir de Amor”.

Trechos Musicais
1º. Acto
Quanto é bella, quanta è cara ! (Rolando Villazon – Nemorino, Tenor)


Della crudele isotta (Kathleen Battle - Adina, Soprano)


Come paride vezzoso (Pablo Elvira – Sargento Belcore, Barítono)




2º. Acto
Udite, udite, O rustici ! (Ildebrando D'Arcangelo - Dr.Dulcamara, Baixo “Buffo”) 


4º. Acto
Una furtiva lágrima (Luciano Pavarotti - Nemorino,  Tenor) 

6 comentários:

  1. Como eu adorava ter VOZ para cantar!!!
    Excelente.
    Bjs

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    1. A voz até podes tê-la não sabes, digo eu !
      No entanto, para chegar a níveis destes, é preciso educá-la, como sabes !
      Obrigado Papoila

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  2. Já não me lembrava desta ópera.
    Vozes magníficas, cenários lindos e como sempre Pavarotti é rei.
    Obrigada por partilhares esta ópera, deliciei-me a ouvir.

    Bom fim e semana Ricardo

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    1. Obrigado pela tua apreciação Manuela. É uma obra magnífica de Donizetti.
      Abraço e boa semana

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  3. Adorei, Ricardo ! Vi-os e ouvi-os todos de ponta a ponta ! ... Maravilhoso !
    Nunca tive oportunidade de ver uma Operá ao vivo. Aqui no Porto é muito difícil ! :(

    Aqui, é certo que não se pode comparar a voz de um tenor com a de um barítono, ou de um baixo, mas o Pavarotti é fantástico !!!
    Procurando recordar os mais antigos, ainda me lembro da voz de Caruso (mas já não do meu tempo). Desse, recordo Mario Lanza !!! ... Mais recentemente, claro que José Carreras, Plácido Domingo, Andrea Bocelli, excepcionais, mas acho que Pavarotti suplantou todos !
    Gostei mesmo muito !!!

    Abraço !

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    1. Não entendo porque motivo há muito poucas vezes Ópera no Porto.
      Não são comparáveis os timbres e as tonalidades de vozes masculinas, bem como as femininas. Enrico Caruso, Mário Lanza, José Carreras, Plácido Domingo, e Luciano Pavarotti, são todos grandes artistas e cantores, mas há mais menos conhecidos e tão bons como estes ! Lá está é preciso que os "media" os divulguem. E se com o Pavarotti existe a certeza de audiência garantida, Roberto Alagna (tenor), por exemplo, não o será. Mas isto somente, porque é menos conhecido, porque é um grande e excelente intérprete do belo canto.
      https://www.youtube.com/watch?v=eNSyvPN7EPQ
      Obrigado e Abraço, Rui

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!