Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Aida de Giuseppe Verdi


Resumo da história desta Ópera

A acção decorre em Menfis e em Tebas, na época do grande poderio dos Faraós. Aida é uma ópera em 4 actos.

1º. Acto – No Egipto Antigo, Radamés (capitão da guarda) é informado que pelo sumo sacerdote Ramfis que a Etiópia vai trazer em breve guerra para o vale do rio Nilo. O jovem guerreiro deseja ser escolhido como comandante do exército, antevendo o triunfo, e a libertação da sua amada Aida, escrava etíope, da orgulha princesa Amnéris, filha do rei. Esta última ama Radamés e ciumenta conta a Aida o seu amor por Radamés.
Os etíopes avançam para o vale do Nilo, afirma o Rei do Egipto numa procissão. Entusiasmado com a vitória, a procissão exulta a vitória sobre os etíopes mesmo sem a guerra ter sequer começado. Aida vê-se dividida entre o seu amor por Radamés e a sua terra de origem, a Etiópia e reza. A espada de Radamés é consagrada pelos sacerdotes em ritual sagrado, enquanto as sacerdotisas cantam preces a Ptah.

2º. Acto – A Etiópia é na realidade derrotada. Amnéris prepara-se para receber Radamés, comandante vitorioso das tropas egípcias. Ela e Aida envolvem-se num diálogo congeminado por Amnéris. Primeiramente diz que ele morreu, morto pelos compatriotas de Aida, e depois que está vivo. Aida confessa que ama Radamés e fica perturbada pela atitude da princesa.
O pai de Aida, e rei da Etiópia, Amonasro vem entre os prisioneiros, ninguém o sabe. Este suplica a compaixão pelos etíopes e Radamés, coroado pela sua vitória, pede ao Rei, como sua recompensa que retire a sentença de morte, pedida pelos sacerdotes egípcios aos prisioneiros etíopes. Após troca de palavras entre o Rei (Faraó), o Sumo Sacerdote e Radamés, este último acaba por conseguir a libertação do prisioneiros, mas Amonasro fica preso. Radamés terá de casar com Amnéris, após o Rei ter-lhe concedido a mão de sua filha.

3º. Acto – Amnéris é conduzida por Ramfis para um templo de Ísis, para a vigília nupcial. Perto dali, Aida espera por Radamés. Entretanto aparece seu pai Amonasro que obriga Aida a pedir a Radamés segredos da invasão da Etiópia. Radamés não resiste e conta tudo a Aida. Amonasro que tinha estado escondido até ali, aparece a Radamés revelando-lhe a sua verdadeira identidade. Aida e Amonasro foge com seu pai e Radamés entrega-se aos sacerdotes confessando o seu traição.

4º. Acto – Amnéris tenta convencer Radamés que pode salvá-lo do julgamento, mas ele tem de rejeitar Aida e casar com ela. Radamés é condenado á morte, pela seu crime para com o seu povo. Amnéris agoniza quando sabe a decisão dos sacerdotes, e amaldiçoa os juízes. Radamés é enterrado vivo na cripta, e é encontrado por Aida que lá se escondera, para partilhar da mesma sorte do seu amado. Os dois dizem adeus ao Mundo dos vivos e Amnéris reza junto ao túmulo por paz.

Personagens de Aida

O Rei …………..…………………………Tenor
Amnéris, sua filha ……………………….Meio-Soprano
Aida, escrava etíope ……………………Soprano
Radamés, capitão da guarda ………….Tenor
Ramfis, sumo-sacerdote ……………….Baixo 
Amonasro, rei da Etiópia, pai de Aida...Barítono
Um mensageiro………………………….Tenor

Sacerdotes, sacerdotisas, ministros, capitães, soldados, funcionários, escravos e prisioneiros etíopes, povo egípcio, etc.

Do autor Giuseppe Verdi, … (excertos)

Nascido a 10 de Outubro de 1813, na aldeia de Roncole (Busseto / Parma), desde muito começou a demonstrar uma inequívoca propensão musical. Em criança, Verdi ficava boquiaberto a ouvir os músicos ambulantes e os cegos tocadores de sanfona (instrumento musical de corda friccionada), que vagueavam por estas zonas. Filho de família pobre, para a qual o dinheiro chegava à rasa para o seu sustento, valeu-lhe um músico retirado, chamado Biastrocchi que fazia de organista na freguesia que o iniciou na arte da música. Por essa altura, morreu nas redondezas um certo sacerdote em cujo espólio, figurava velha espineta (espécie de cravo, instrumento com teclado, idêntico ao cravo e ao piano), meio desmantelada, que o pai de Verdi comprou por dez reis de mel coado e que um tal Estêvão Cavaletti - primeiro admirador de Verdi – consertou de graça, em 1821, dando-se, unicamente, por satisfeito “com a boa disposição que o pequeno mostrava para aprender a tocar o instrumentos”. Três anos depois, Verdi já substituía o professor Biastrocchi, a tocar no órgão da igreja. Seu pai, no entanto, decidiu mandar José (Giuseppe) Verdi para a escola, em Busseto. A partir dessa data, todos os Domingos e dias santos, chovesse ou fizesse Sol de rachar, José palmilhava duas vezes o caminho para ir tocar o órgão da velha igreja paroquial de Roncole, sua terra natal.
Quando da inauguração do Canal Suez, em 17 de Novembro de 1869, foi-lhe encomendada uma ópera nova, que deveria ser escrita, propositadamente, para se lá estrear. Verdi pediu, após aconselhar-se com o seu conterrâneo e discípulo, o maestro Manuel Muzio (1825-1890), 4.000 libras esterlinas pela partitura [18 contos de então, que seriam mais de 900 contos dos de hoje (4500€) – estamos a reportar-nos quando foi escrito este texto, por volta de 1947]. Muzio disse-lhe que se quisessem que ele fosse lá, em pessoa, ele deveria pedir 6.000 libras.
Na volta do correio recebeu o esboço, a largos traços, do entrecho do drama, produto da imaginação do célebre egiptólogo francês Mariette-bey (1821-1881). Camilo du Locle (132-1903) escreveu o libreto (argumento) em prosa francesa, em Busseto. António Ghislanzoni, verteu a prosa de du Locle para lindíssimos versos italianos. Por fim, Verdi lançou-se activamente na composição da música, pois Aida deveria ser estreada em fins de 1870.
Verdi morre em Milão, a 27 de Janeiro de 1901. Deste extraordinário compositor destacam-se, para além de Aida, as óperas: Rigoletto; Um Baile de Máscaras; La Traviata; O Trovador; A Força do Destino e Hernâni.

Texto extraído e adaptado de:
Colecção "Ópera", Volume 9, Direcção Mário de Sampayo Ribeiro, Editor Manuel B. Calarrão, Lisboa, Março de 1947, Preço 5$00.

DVD indicativo: Na Amazon francesa existem vários com diversos cantores, escolhi este.

Trechos Musicais

Abertura da Ópera Aida – Filarmónica de Nova Iorque dirigida por James Levine


1º. Acto - Celeste Aida, RadamésJon Vickers (Tenor), em 1962


1º. Acto – Ritorna Vincitor, Leontyne Price (Meio-Soprano)


2º. Acto – Marcha da Aida, Orquestra e Bailados (Realizado pelo Coro, Bailarinos e Orquesta da Companhia Nacional de Teatro de Ernest Marzendorfer


3º. Acto – O Patria Mia, Aida - Maria Callas (Soprano)


4º. Acto – O Terra, Adio – Aida, Luciana d’Intino (Soprano) e Radamés, Placido Domingo (Tenor)

14 comentários:


  1. Este é daqueles posts de degustação. Digo isto porque é para se ir saboreando aos poucos.
    Dado o adiantado da hora, hoje fico-me pela "Overture" mas volto cá amanhã.

    Boa noite... e até amanhã
    (agora parecia o Vitinho)
    (^^)

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    1. Eu sei que vais voltar ! :)
      Obrigado

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    2. Sim, já cá estou de novo!
      E devo dizer que estou toda arrepiada com a voz do tenor canadiano!
      Lá está... as vozes! Há vozes que me deixam enfeitiçada. Tive de ouvir mais do que uma vez... porque aquele início faz-me colar à cadeira! :))

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    3. Uma voz muito potente, mas ao mesmo tempo muito agradável de ouvir !
      Obrigado

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  2. Uma ópera que se vê e nunca mais se esquece, Ricardo.
    Aquele abraço

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    1. Não tenhas dúvidas Pedro. Já a vi três vezes em Lisboa. Duas no Teatro da Trindade e outra excepcional no Coliseu !
      Obrigado e Abraço

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  3. Uma ópera que sempre adorei. Há muito que não a ouvia e como diz a nossa amiga Afrodite, é para degustar e é o que estou a fazer enquanto ando nas minhas lides.
    Confesso que não sabia a história.
    Belo post Ricardo!

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    1. Uma das óperas clássicas mais famosas de sempre. escrita por compositor, um dos mais famosos compositor de música para o belo canto !
      Excelente como espectáculo ao vivo. Quem puder e quando puder vá ver !
      Obrigado Manuela

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  4. Muito boa esta publicação! Gostei muito. Nunca assisti a esta ópera - aliás assisti a muito poucas; as que aparecem aqui por Leiria, com efeito... e são poucas as vezes que isso acontece.

    Beijinhos.

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    1. Graça para a veres é bem possível que tenhas de vir a Lisboa ou ao Porto. é uma ópera estilo "Carmen" de Bizet. Muitos personagens e necessita de muito palco para se conseguir uma boa encenação.
      Obrigado

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    2. No Porto em que sala? O Coliseu tem uma péssima acústica e a Casa da Música não tem capacidade para óperas do calibre de AIDA.

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  5. Vi a bombástica AIDA várias vezes, embora não seja uma das minhas óperas preferidas.

    Gosto que escrevas aqui sobre óperas famosas como AIDA ou CARMEM.

    É pedir muito que escrevas aqui sobre óperas de compositores alemães?

    Bis 😘

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  6. Boa tarde, não tive a oportunidade de ver a ópera, são os efeitos de quem vive na província, Maria Callas sempre me encantou, adorei o video.
    Boa semana,
    AG

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    1. Maria Callas era uma excelente cantora, mas não era/é a única !!!
      Obrigado António

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!