Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

No 24 de Abril aqui também dava cinema



Algum cinema antes do 25 de Abril, passava por aqui em solo estrangeiro e às escondidas da censura e do seu lápis azul, e era projectado no interior deste edifício, numa sala que não levaria mais de 75 pessoas, se bem me lembro. Cinema que Lisboa dos anos 60, não via, nos cinemas da altura. 

O Consulado Alemão, onde hoje se encontra o “Göethe Institut Portugal”, situado no Campo Santana, hoje Campo Mártires da Pátria.
Lembro-me de ter lá ido algumas vezes, na década de 70 (antes do 25 de Abril), como cinéfilo, algo convicto que eu era, ver filmes de realizadores alemães e outros. Wim Wenders e “A Angústia de um Guarda-Redes perante o Penalty”, Werner Herzog e “Aguirre, o Deus da Ira”, e muitos outros.

Sentíamo-nos bem em ver estes filmes, “escondidos” e à sucapa do antigo regime, imbuídos num sentimento de rebeldia. O regime esse, infelizmente, perdurou por poucos anos mais, martirizando e torturando os portugueses e fabricando uma guerra colonial que dizimou, invalidou, e estigmatizou a juventude dos países envolvidos. Para quê ?!

10 comentários:

  1. Frequentei durante pouco tempo e depois do 25A... ;)

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    1. Pois então depreendo que és, eventualmente, um pouco mais nova do que eu, por isso somente após o 25 de Abril por lá passaste. Vamos ter tempo de confrontar BI's !!! :))

      Obrigado Teresa

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  2. Só posso responder à pergunta final, quanto ao edifício em questão e aos filmes lá exibidos clandestinamente, acho que só sabe quem aí viveu a juventude ou é natural de Lisboa.

    Para quê? Para "orgulhosamente sós"manter uma guerra, perdida ingloriamente, deixando um rasto de morte e desagregação familiar!

    A descolonização que se seguiu, após o 25 de Abril, foi mais uma vergonha. Planeada em cima do joelho e sem bases estruturais, acabou com o resto!...

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    1. Concordo contigo em relação á guerra colonial e em parte quanto à descolonização. Foi um período conturbado e difícil já que as colónias, há muito tempo que deveriam estar independentes de Portugal. Nada disto teria acontecido, não só estes países teriam ficado bem melhores, mas também, ter-se-ia evitado a vinda obrigatória e em más condições de muitos portugueses !

      Obrigado Janita

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  3. Embora natural de Lisboa confesso que não frequentei esse edifício. Mas lembro-me e participei em revoltas de estudantes sempre reprimidas pelas polícia de choque.
    Portugal viveu num regime que deixou marcas para sempre, agora vivemos "outra guerra"
    que está a dizimar também os nossos jovens.
    Até quando ?

    beijinho

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    1. Pois essa situação de emigração, a qual já não é de mão-de-obra barata, é preocupante. Andamos/andámos a investir dinheiro nos nossos jovens e eles estão a partir dada à falta de empregos no nosso País :((((

      Obrigado Fê

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    1. São muitas vezes privilégios para aqueles que vivem numa capital, seja ela qual for !

      Obrigado

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  5. Saudades das salas de cinema também localizados no centro das cidades, ponto de encontros dos jovens. Hoje estão concentradas em Shopping center e perdeu o glamour.
    Estou lembrando do Encontro de amigos blogueiros marcado para esse domingo.Depois conta pra gente,Ricardo.
    um abraço

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    1. É verdade o que dizes hoje é sempre a história de ir a um Centro Comercial (Shopping) ao cinema. Aqui ao uns anos, ir ao cinema era um ritual. Combinava-se com a/o namorada/o, mulher/marido e ia-se jantar fora e depois sentava-mo-nos num cinema do centro da cidade a ver um bom filme. Muitas das vezes o bom filme, não se via, porque se namorava :))).

      O encontro de Amigos foi "delicioso". O teu conterrâneo Prof João Paulo e o companheiro de viagem, o Rodrigo são dez estrelas. Acho que o Rui Espírito Santo irá concentrar as fotos tiradas e enviar links para quem as quiser ver !
      O próximo vai ser em Lisboa e tens de vir !

      Um Abraço

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!